segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Artigo: Cajuína genuína


Em 1988 eu morava em Regeneração, onde conheci a melhor cajuína que já saboreei: a Cajuína de Dona Beni. Simplesmente um primor! Passei a tê-la sempre em casa, para o consumo próprio e das pessoas que me visitavam.

Certo dia um amigo cearense, de passagem pela cidade, apeou em minha casa para um breve almoço, durante o qual lhe servi uma cajuína bem gelada, como manda o figurino. Qual não foi a minha surpresa com a surpresa do amigo! Ao saboreá-la, ele teceu os maiores elogios, bateu palmas e pediu bis. Contudo, o que mais o impressionou foi o fato de a bebida ser feita de caju. Caju puro, sem mistura. É que ele já conhecia o produto, tendo-o consumido lá pras bandas do Cariri, no sertão cearense. Só que o sabor era outro, era um sabor misturado. A qualidade, não dava pra comparar. Segundo ele, a cajuína da sua terra nem era digna desse nome, embora – é bom que se diga – ele não conhecesse todas as cajuínas do Ceará. Mas, de antemão, asseverava ser improvável encontrar, por lá, uma cajuína assim tão gostosa. E a cada gole que sorvia, a mesma sentença repetia: “Isto, sim, é Cajuína!”

Agora a Coca-Cola decidiu batizar com o nome de “Crush Cajuína” o seu novo refrigerante, uma mistura de guaraná com suco de caju. A notícia gerou a reação imediata (e justa) do articulista do Portão do Sertão, Joca Oeiras, que deflagrou uma campanha em defesa da Cajuína, uma bebida com profundas raízes na cultura popular piauiense, tendo, inclusive, sido declarada oficialmente “Patrimônio Natural e Bem Imaterial do Piauí” pelo Governo do Estado.

A campanha angariou a simpatia de gente como Cineas Santos, Fonseca Neto e Climério Ferreira, e gerou uma “Nota de Posicionamento” da Coca-Cola Norsa, fabricante do Crush. Esclarece a Norsa que o termo “cajuína” foi incorporado ao nome do refrigerante apenas para explicitar o sabor da bebida, e foi escolhido por ser a Cajuína “um produto tradicional e admirado em alguns estados do Nordeste”.

A intenção pode ser boa, mas considero desaconselhável a adoção do nome, especialmente por dois motivos, além da questão cultural: primeiro, porque a Cajuína não é utilizada na composição do refrigerante (é utilizado o suco de caju, que é outra coisa); segundo, porque quem provar do Crush Cajuína poderá ser induzido a ter uma falsa impressão (positiva ou negativa, não importa) do sabor da Cajuína. Talvez “Crush Caju”, por exemplo, denominasse mais apropriadamente a bebida.

Não sei como vai terminar essa pendenga. De qualquer forma, deixo aqui uma sugestão aos órgãos competentes, em defesa da autêntica Cajuína: que se estabeleça um controle de qualidade, com emissão de um selo a ser aposto no rótulo de toda embalagem de Cajuína cujo processo de fabricação e acondicionamento tenha obedecido a critérios predefinidos. O selo traria a expressão “CAJUÍNA GENUÍNA” e significaria, para o consumidor, a certeza de estar saboreando uma bebida fina, pura, de raiz nordestina e identidade piauiense. Cajuína cristalina, com gosto de Piauí, com cheiro de Teresina.

Gutemberg Rocha - do Instituto Histórico de Oeiras

fonte: acessepiaui.com.br

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