Barra Grande, povoado litorâneo do município de Cajueiro da Praia, a 406km de Teresina, pode perfeitamente ser chamado de um paraíso na Terra, mas nem tanto. O lugar tem belezas naturais de grande impacto visual, mas o que poderia ser um recanto turístico de grande visitação termina se transformando num muro de lamentações para empreendedores e nativos.
A infraestrutura básica é deficiente. Serviços como água e luz são oferecidos irregularmente. Para que tenha ideia, a energia falta o tempo inteiro. Tanto que os estabelecimentos comerciais, como pousadas, utilizam geradores próprios, o que termina encarecendo as despesas de manutenção que são repassadas para a clientela.
A água, de outro, é barrenta, inadequada, portanto, para o consumo humano. Nesta semana, a Agespisa iniciou um mutirão de cortes no fornecimento por falta de pagamento. Os moradores alegam não pagar por iniciativa própria. “O líquido é escuro e dá até receio de ser consumido”, afirma dona Luzia Vieira da Silva, que defende maiores investimentos no setor.
A medida adotada pela companhia de água não gerou nenhuma revolta na população local. A revolta maior é por conta da baixa qualidade do produto oferecido. “Penso que seria importante para o governo do estado investir neste setor.” Dona Luzia engrossa o coro dos descontentes com o projeto de construção de uma praça na beira da praça a que se está denominando de “Praça dos Pescadores”.
“Os pescadores não precisam de praça. A comunidade não precisa de praça. A comunidade precisa de água de qualidade, precisa de luz, precisa de outros melhoramentos. Vejo que a prioridade deve ser outra e não a da construção de uma praça. É um projeto indesejado”, enfatiza a mulher, que trabalha como arrumadeira numa pousada do recanto.
Defende ainda dona Luzia a construção de um posto de saúde. “Qualquer atendimento, por menor que seja o problema, recorre-se a Cajueiro da Praia ou Parnaíba. Na entrada do povoado a estrada é de péssima condição. Por que não fazer isso? Tem muita coisa para ser feita que ajudaria muito mais do que esta praça”, pontua. Ela também prega a construção de uma creche. “As mães trabalhadoras não têm onde deixar seus filhos quando estão no batente. Então esta poderia ser outra ação de grande importância para nós. O governo, com esse projeto da praça, segue numa direção contrária.”
O povoado de Barra Grande é, de fato, um lugar belíssimo. Mas salta aos olhos a precária infraestrutura. No centro do povoado, a única praça existente precisa ser melhorada. A única igreja, de Nossa Senhora da Conceição, carece de conservação. No entender dos moradores, o poder público poderia participar do seu soerguimento.
A ideia é que os turistas sejam bem recebidos, de fato e de direito, porque no entendimento dos nativos os dirigentes não se fazem presentes como deveriam. “Aqui falta muita coisa. Água e luz é um caos. Faltam banheiros públicos. Um lugar turístico deveria contar com banheiros assim. Ao contrário, não tem nada disso e as pessoas quando querem fazer suas necessidades procuram os banheiros das pousadas ou então fazem ao relato. Tem noite que a gente anda por aí topando nas pessoas agachadas no escuro”.
A declaração é de Francisco das Chagas Rocha dos Santos, garçom da pousada Pontal da Barra, pertencente à professora aposentada Auri Lessa, que também é escritora. O lugar recebe anualmente milhares de pessoas, muitas das quais bastante famosas, outras nem tanto. Na parede, um mural fotográfico expõe detalhes das visitas do príncipe Dom Luís de Orleans e Bragança, do humorista João Cláudio Moreno, da atriz Regina Duarte, do senador Eduardo Suplicy, do arquiteto Marcelo Hosembaüen (do programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo de Televisão).
Segundo Francisco das Chagas, a Praça dos Pescadores não tem futuro para Barra Grande. “Pescador não precisa de praça. Precisa de descanso. Quando chega do mar, vai direto pra casa. Não tem tempo pra essas coisas. O que tenho a dizer é que a população tem outras prioridades. Essa praça vai servir apenas pra estrume de boi, encher de areia, vai ser um lugar-fantasma. Por que fazer, então, quando existem outras necessidades?! Digo, por exemplo, que a água é ruim, de qualidade ruim, a energia é precária. No reveillon de 2010 foi um ‘Deus nos acuda’. Faltou luz aí pelas onze da noite e voltou somente no dia seguinte, já com o sol bem alto no céu.”
Em Barra Grande, não tem sinal de internet. Para acessar a web, as pessoas precisam se deslocar 8 km até Cajueiro da Praia, percurso que é feito em 15 minutos. Poderia ser menos. Mas existem falhas em pontos diversos da rodovia que contribuem para atrasar a pequena viagem. “Por que não investir recursos na construção de chafarizes públicos, na melhoria do abastecimento d’água para a comunidade? Em toda campanha política este é um tema principal. Mas na hora de fazer aparecem com este projeto de Praça dos Pescadores.”
Francisco das Chagas conta que a comunidade nunca foi consultada sobre a obra. Ele afirma ainda que a população local se reuniu e fez um abaixo-assinado em protesto. O documento foi encaminhado para o Ministério Público Estadual. “Espera-se que haja providências de acordo com o que seja melhor para nós”, pontifica Francisco das Chagas.
Segundo ele, o secretário estadual de Turismo nunca manteve qualquer tipo de entendimento com os nativos. Todos os entendimentos foram firmados em nível de prefeitura e Câmara de Vereadores. As reuniões aconteceram na sede do município. “Nenhum morador da Barra Grande foi ouvido sobre isso, então é justo que a gente se manifeste agora, de forma contrária, porque teria feito do mesmo jeito se tivessem perguntado lá no começo.”
O pescador Alex Santos da Rocha disse que não foi ouvido sobre a construção da obra. Ele disse que se for feita realmente pode se constituir em benefício. Afirma ainda que não adianta protestar. “Esse pessoal, quando quer, faz mesmo. Então, estou sabendo que tem muita gente contra isso. Tem deles que não aceitam.” Ele admite que nunca houve reunião com a população para tratar do assunto. “Se fizerem, a gente ‘engole’. Tem muita conversa por aí, todo mundo falando, mas eu mesmo não sei dizer o que vai acontecer, porque se fala muito mas na hora que o poder chega aí faz do jeito que eles, lá de cima, querem fazer.”
fonte:http://180graus.brasilportais.com.br/cidades/180-na-estrada-nativos-reclamam-dos-problemas-em-barra-grande-331500.html
Ismailon Moraes
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