Misto quente no café da manhã. Calçadas de pedras pretas e brancas que formam desenhos contínuos. Pequenos edifícios coloridos, mosaicos de azulejos nas paredes. Vistas deslumbrantes sobre a água. Cafezinho e chopp. Todos falando português. Não, isso não é Brasil, é Lisboa. Durante muitas décadas, Portugal esteve deixado um pouco de lado do mapa turístico da Europa. Considerado um país "pobre", se comparado a seus vizinhos, desgastado pelos quarenta anos de ditadura, foi somente com a entrada para a União Européia, em 1986, que o país começou a renascer.
Nestes últimos 20 anos Portugal, e principalmente sua capital, Lisboa, tem experimentado um número cada vez maior de turistas curiosos para visitar este último pedacinho de terra no mais extremo oeste europeu. A capital Lisboa tem hoje um interessante nicho de visitantes, que vão desde grupos de jovens a senhores. Sabe-se que Lisboa não é um destino tão óbvio para os viajantes europeus. As pessoas que vão para lá tem um espírito mais curioso, mais despretensioso, de quem na realidade está disposto a deixar-se surpreender. Os visitantes de outras partes da Europa que vão para a cidade são geralmente pessoas com uma certa bagagem de viagens e que já estiveram em muitos dos demais destinos turísticos mais conhecidos do Velho Continente. Por isso os portugueses ainda conservam aquela alegria genuína de receber visitantes, muitas vezes diferente de outros destinos mais comuns.
E é justamente dentro deste espírito despretensioso que Lisboa encanta seu turista. A vida aqui passa mais lentamente, deixando tempo suficiente para absorver aos poucos a beleza da cidade e a curiosa vida cotidiana de uma aldeia que coexiste dentro de uma capital européia, debruçada sobre o majestoso Rio Tejo. Para os brasileiros também não é diferente. Nos últimos anos Portugal está muito mais visível no mapa da Europa. A primeira impressão é comum a todos os brasileiros: a cultura portuguesa é, sem dúvida, castiça e muito mais rígida do que aquilo que esperaríamos como sendo a origem do país do carnaval. Sem a miscigenação com o samba, o clima tropical e a mistura de raças, a mãe Portugal torna-se verdadeiramente diferente para o olhar do turista brasileiro. O diferente atrai e uma outra cultura é sempre um motivo para uma nova viagem.
Mas uma vez em Portugal a pergunta que vem à cabeça é se estamos visitando o desconhecido ou reconhecendo algo familiar. Quem vai a Portugal sabe que vai reconhecer muitos aspectos e referências do Brasil. Ainda assim, será sempre surpreendido ao reconhecer tantos elementos familiares por aqui. Muitos têm o objetivo de conhecer suas origens, mas boa parte do que os turistas vêem são mais do que um elemento importante da nossa cultura, mas sim a origem de um país. O conhecimento do novo, juntamente com o reconhecimento de algo a que estamos acostumados é o que faz da viagem à Portugal uma mistura única entre sentir-se na própria casa e, ao mesmo tempo, ter contato com uma cultura diferente, autenticamente européia.
Expedição de reconhecimento
Em toda cidade há referências à cultura brasileira, mas alguns pontos turísticos (e outros nem tanto) reforçam a lembrança das origens do Brasil e sua relação com Portugal. A Praça das Flores é uma delas. Típica pracinha de bairro, com senhores nos bancos, crianças jogando bola, um chafariz ao centro e cafés ao fundo, o local lembra cenas de cidades do interior brasileiro. Uma das praças centrais da cidade, a Praça Camões, também integra este roteiro de reconhecimento. Em terra lusitana, o autor de "Os Lusíadas" é considerado um tipo de Shakespeare português, o responsável por desenvolver as poesias métricas na língua portuguesa. Não é a toa que estudamos isto nas escolas e só entendemos finalmente o sentido disso quando o vemos ali, no obelisco de destaque no meio da praça do bairro mais prestigiado da cidade, o Chiado.
No largo do Chiado também podemos esbarrar com outro escritor de renome, o poeta Fernando Pessoa. Sua estátua está fixa onde costumava ser a mesa preferida do poeta no clássico café "A Brasileira". Super concorrido até hoje, ali vendiam-se cafés e produtos típicos trazidos maior colônia portuguesa, o Brasil. Para quem é amante de sua poesia, ou é minimamente familiar com sua escrita, sentirá que em Lisboa torna-se ainda mais fácil captar a atmosfera de seus versos. Da sua mesinha do café, Pessoa buscava as inspirações nas cenas da praça e nos personagens dos transeuntes daquele mesmo bairro.
Do Chiado, uma curta caminhada leva ao elevador Santa Justa. Inaugurado em 1902, com o intuito de transportar pedestres pelas grandes ladeiras, foi logo levado para outras colônias. Um exemplo claro é o Elevador Lacerda, de Salvador. Após apreciar a vista de cima do mirante do Santa Justa, experimente ir até a Praça do Rossio, atualmente a principal praça da cidade. Algo familiar é observado: o calçadão de Copacabana. A cidade é repleta de calçadas trabalhadas, mas a desta praça em especial a identificação é imediata. Os pisos de "pedras portuguesas" foram desenvolvidas pelos Mouros, que habitaram a Península Ibérica entre os séculos 5 e 11 e também estão por todas as partes. Totalmente artesanais, estes mosaicos sob os nossos pés são compostos de pedras calcaria branca e basáltica preta. Quando os portugueses retomaram o território dos árabes, difundiram este estilo por várias calçadas da cidade, popularizando os desenhos e formas que posteriormente foram levados ao Brasil.
Caminhando pela zona histórica da cidade, percebe-se que há um festival de azulejos de todos os tipos, períodos, formas e composições. Também oriundo do período dos Mouros, os azulejos são um dos maiores ícones de Portugal. E, na verdade, a palavra azulejo significa pedra polida em árabe (que em nada tem a ver com a relação que alguns brasileiros fazem com a cor "azul", provavelmente pelas piscinas que existem em nosso país, feitas deste material).
Após o grande terremoto de 1755, o primeiro ministro da época, Marquês de Pombal, deu incentivos para as fábricas de azulejos fabricarem o material para a reconstrução da cidade. Isso significa que, após o século 18, Lisboa ficou repleta dessas cerâmicas coloridas. Mas é principalmente na sua antiga zona comercial, conhecida como Zona Baixa, que os azulejos são predominantes. Nas ruas principais, como a Rua Augusta, há uma imensa variedade deles, em incontáveis cores e desenhos.
Já no bairro árabe de Alfama, situado em torno do castelo medieval da cidade, há a pequena e charmosa Igreja de Santo Antônio. Um dos santos mais populares do Brasil nasceu em Lisboa e foi consagrado padroeiro popular da cidade. Um pouco mais a frente, tem a catedral da Sé. Construída no século 17 para servir também de fortaleza contra ataques inimigos, esta igreja medieval é grandiosa como a sua irmã paulistana. É ali também, na próxima esquina, que há uma placa de rua, simples, poética e muito familiar: Rua da Saudade. Essa tem um gostinho especial para pessoas que falam português, já que é somente neste idioma que existe uma palavra para definir este sentimento.
Em outra colina da cidade, no bairro do Príncipe Real, fica o Jardim Botânico. Já na entrada do parque, pelo corredor de altas palmeiras imperiais, nos transportamos ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Com o mesmo estilo e propósito, mais uma vez, Portugal ficou ainda próximo do Brasil. Se você se cansar de voltar ao passado pelas ruas de Lisboa, vale uma visita ao moderno Parque das Nações, no Bairro da Expo. Construído para sediar a conferência da Expo 1998, essa região possui arquitetura ousada, entretenimento, variedade de lojas e um shopping center com teto de vidro, o Vasco da Gama.
Intervenções culturais também integram o leque de atrações de Lisboa. O tradicional e melancólico cantor de fado toca lado a lado com o som do berimbau da capoeira de Angola. Seja na música, costumes ou arquitetura, a cultura africana, brasileira, árabe e muitas outras européias se misturam harmoniosamente pelas ruas desta capital européia. Como resultado do seu renascimento, Lisboa descobriu muito bem como explorar o seu melhor potencial: seu clima ensolarado, vistas panorâmicas fantásticas e baixo custo em relação ao resto da Europa. Entre suas sete colinas, a cidade tem muitos mirantes, chamados por lá de miradouros. São nestes lugares que, recentemente e cada vez mais, têm surgido bares e esplanadas que oferecem um espaço ao ar livre para curtir a paisagem, ler um livro e tomar aquele choppinho (que por lá manteve o nobríssimo nome de imperial), ou um dos excelentes vinhos portugueses. Ou, é claro, um cafezinho.
SERVIÇO
Café da manhã
Pão de Canela
Praça das Flores 27/28 - Lisboa
Tel: 213972220
Azulejos e cerâmicas portuguesas
Loja Fábrica Santanna
Rua do Alecrim 95 - Lisboa
Tel: 213422537
Ginjinha (licor)
Largo São Domingos, Rossio
Igreja de São Domingos
Largo São Domingos, Rossio
Confeitaria Nacional (pastelaria)
Praça da Figueira 18 - Lisboa
Tel: 213424470
Restaurantes
Resto Chapitô
Rua Costa do Castelo 7 - Lisboa
Tel: 218867334
Stasha
Rua das Gáveas 29-33 - Lisboa
Tel: 213431131
Portas Largas
Rua da Atalaia 105 - Lisboa
fonte:http://viagem.uol.com.br/ultnot/2010/06/22/passeio-por-cafes-pracas-e-mirantes-de-lisboa-revela-a-historia-e-a-cultura-brasileira.jhtm
Ismailon Moraes
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