Ainda sob influência da crise econômica que abalou os cinco continentes em 2009, a primeira Copa do Mundo na África começou com um número de turistas abaixo do previsto – as projeções mais otimistas beiram os 300 mil visitantes, enquanto o número inicial esperado era de 500 mil – e com muitas vagas em hotéis, campings e albergues. Por outro lado, sites que promovem acomodação gratuita aos visitantes estão sobrecarregados com a grande procura durante o evento.
A ideia das redes sociais de “troca de hospitalidade” (em inglês, hospitality exchange) começou muito antes da internet, em 1949, quando o norueguês Bob Luitweiler fundou a Servas Open Doors, entidade para promover a hospedagem solidária e solidariedade a viajantes. Atualmente, pelo computador, os usuários interessados criam uma conta em uma das redes existentes com o intuito de receberem hóspedes em suas casas e serem hospedados por outros membros quando viajarem. Com isso, além de economizarem em seus orçamentos – já que a acomodação deve ser gratuita – os turistas têm a oportunidade de conhecer o lugar pelos olhos de um morador local, absorvendo mais da cultura e da história da região visitada. Atualmente, a comunidade mais abrangente e com o maior número de usuários registrados é o CouchSurfing, com quase 2 milhões de membros espalhados pelo mundo. Porém, nas oito cidades-sede da Copa, existem cerca de 1,5 mil usuários registrados no portal, um número pequeno em relação à quantidade de membros estrangeiros que estão recorrendo ao site para conseguir acomodação gratuita.
“Eu ouvi dizer que fazer couchsurfing [literalmente, “surfar um sofá”] durante a Copa do Mundo seria impossível por causa do grande número de pessoas buscando acomodação. Mas, pelo visto, está funcionando”, diz o norte-americano Sam Arkin, antigo membro da rede, ao Opera Mundi. Sam não teve a sorte de encontrar um sofá disponível e está dormindo no chão de um hotel em Durban com os amigos para manter a viagem dentro do orçamento.
Em Durban, cidade palco do jogo Brasil x Portugal, cerca de apenas 40% das vagas nos hotéis estão sendo ocupadas pelos turistas, enquanto os membros das redes de troca de hospitalidade estão tendo dificuldades para responder todos os pedidos de acomodação que recebem diariamente. Do outro lado do país, as coisas não são diferentes. Hannes Mouton, moradora da Cidade do Cabo, atingiu o limite da capacidade de sua casa para o período da Copa do Mundo já em janeiro deste ano. A procura foi tanta que ela se viu obrigada a deixar o aviso em seu perfil de que não poderia acomodar nenhuma pessoa além das que já a haviam procurado ainda em 2009.
“Eu não tenho espaço sobrando para o período da Copa, desculpem-me. Minha caixa de entrada tem estado superlotada com os pedidos”, afirma Shafi “Frootloop”, como é conhecido na rede, também morador da Cidade do Cabo. Em Porto Elizabeth, Elaine Whitcher considera “sortudas” as pessoas que foram rápidas o suficiente para conseguir acomodação em sua casa e explica que não poderá considerar a possibilidade de receber mais ninguém até o fim do mundial. Ela está no grupo de usuários que começaram a se sentir incomodados com a insistência dos visitantes e deixa claro em seu perfil que não há mais vagas em seu sofá.
O casal Paul e Dawn van der Byl, moradores de Joanesburgo, cidade mais movimentada do torneio e com hotéis praticamente lotados, deixou um recado curto e grosso em sua página para evitar mais mensagens indesejadas: “Missão atual: não ficar irritado com os pedidos de acomodação para a Copa do Mundo quando seu perfil diz que não há disponibilidade”.
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Com o número de pedidos de acomodação absurdamente acima do normal, alguns membros das redes de troca de hospitalidade estão aproveitando o momento único da primeira Copa na África para promover suas empresas ou conseguir algum favor em retribuição.
É o caso do sul-africano Steve Theunissen, que aproveitou a alta procura por hospedagem em Durban para se inscrever no CouchSurfing e facilitar próxima viagem, em julho: ele sonha em conhecer o Brasil. O turista deixa claro que está disposto a aceitar visitantes brasileiros caso os mesmos ofereçam suas casas para o período em que estiver no país. Além de já ter confirmados a presença de três brasileiros, ele também aceitou receber um americano em troca de dois ingressos extras para a partida entre Brasil e Portugal, a mais disputada na cidade.
Embora membros desse tipo sejam minoria, Steve não está sozinho. William Kwaku Opoku, de Pretória, por exemplo, está utilizando sua conta no Hospitality Club, outra rede online de hospedagem, para promover a agência de turismo que gerencia, oferecendo seus serviços para ajudar os visitantes a encontrar hotéis próximos, alugar automóveis para passeio e agendar viagens pela África do Sul, sem citar a possibilidade de acomodar pessoas gratuitamente em sua casa.
Permuta
Já Derek Serra, da Cidade do Cabo, foi além. Em lugar de oferecer trocas ou recomendar serviços, o sul-africano nega qualquer pedido de hospedagem durante a Copa do Mundo, mas aluga seu trailer para grupos de uma a quatro pessoas por uma quantia entre vinte e quarenta dólares por dia. “Eu poderia encher todo um hotel com os pedidos que recebi até hoje. Então, estou sem acomodação do dia primeiro de junho ao dia 11 de julho”, avisa. A ideia não foi só dele. Em Durban, Graeme Mercer abandonou o clima de Copa do Mundo e partiu com a família para uma viagem à Europa, enquanto um amigo ficou responsável por gerenciar os pedidos por acomodação e receber os visitantes em sua casa, que podem alugar um dos três quartos disponíveis. “Os preços ainda estão entre os mais baixos em Durban”, diz, sem revelar o valor cobrado.
fonte:http://operamundi.uol.com.br/noticias/REDES+DE+HOSPEDAGEM+SOLIDARIA+AJUDAM+A+ABRIGAR+TURISTAS+NA+COPA_4697.shtml
Ismailon Moraes
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