Como é que Lerici, uma inegavelmente bela cidade litorânea a poucos minutos de Cinque Terre, na Riviera Italiana, tem escapado do radar dos turistas estrangeiros? Em uma recente tarde ensolarada de primavera, Riccardo Morlini, proprietário da Gelateria Arcobaleno, uma minúscula sorveteria na praça principal de Lerici, ofereceu sua explicação: marketing. “Cinque Terre é vendida turisticamente a toda parte há muito tempo”, ele disse. “As pessoas conhecem Cinque Terre em todo o mundo. Mas Lerici não é tão conhecida.”
Não muito conhecida fora da Itália, na verdade. Lerici é um amontoado de prédios pastéis que disputam atenção com suas praias, enseadas em forma de lua crescente e penhascos rochosos que se misturam ao mar cintilante. E em julho e agosto, a cidade fica movimentada, as praias repletas de moradores locais, famílias do norte da Itália em férias e milaneses fiéis.
Por toda a cidade, casais jovens namoram nos cafés à beira-mar, crianças jogam futebol sob as palmeiras e grupos de homens grisalhos caminham pelo calçadão da praia. Muito poucos falam inglês. Em Lerici, diferente de muitas outras cidades da Riviera, a língua franca ainda é o poético italiano.
Lerici é flanqueada por áreas bem conhecidas dos turistas estrangeiros. Ao sul, os balneários ostentosos toscanas da Versilia contam quilômetros de praias arenosas lotadas de europeus do norte e italianos bronzeados. E a poucos quilômetros ao norte fica Cinque Terre, cinco vilarejos à beira de um penhasco ligados por trilhas estreitas que ficam tomados por americanos.
Na verdade, Lerici possui muito do mesmo apelo que suas vizinhas populares, com belos trechos de praia e quilômetros de trilhas para caminhada com vistas fotogênicas, menos as multidões sufocantes. O imponente castelo medieval que paira sobre a praça principal de Lerici é o principal marco da cidade, mas o belo calçadão de 2,5 quilômetros que se estende por todo o litoral é ainda mais bonito. Após passar por barcos balançando preguiçosamente no porto e trechos de rochas enormes onde pessoas tomam sol como leões-marinhos, o calçadão passa por uma série de praias a caminho de um castelo de pedra menor, que ancora o vilarejo vizinho de San Terenzo.
Ao sul de Lerici, uma estrada estreita - com espelhos convexos em cada curva - serpenteia acima da costa, passando por bosques de oliveiras nas encostas e pela minúscula cidade de Fiascherino, antes de acabar no encantador vilarejo de Tellaro. A rota no topo de penhasco lembra vagamente a Costa de Amalfi, com vistas deslumbrantes do mar azul-turquesa e da costa escarpada após cada curva.
Juntas, as quatro cidades de Lerici, San Terenzo, Fiascherino e Tellaro - ou Quattro Terre, se quiser - formam a borda leste do Golfo de La Spezia, também conhecido como Golfo dei Poeti, o Golfo do Poeta.
Por séculos, esta área tem sido um paraíso para artistas e escritores italianos em busca de solidão e inspiração na bela paisagem. No início do século 19, ela também despontou como destino para os intelectuais europeus - um enclave para poetas e escritores que, ao longo dos anos, incluíram notáveis como Percy e Mary Shelley, Lord Byron e D.H. Lawrence. Mais recentemente, os escritores italianos Mario Soldati e Attilio Bertolucci se estabeleceram na área, mantendo sua tradição literária.
“Nós tivemos muitos pintores, nós tivemos cantores, nós tivemos muitos artistas que estavam à procura de um lugar para se esconderem”, disse Francesca Mozer, que, juntamente com sua mãe, Nicoletta, são donas do clube de praia privado Eco del Mare, em Lerici. A propriedade fechada era apenas um trecho modesto de areia inserido entre penhascos altos e o mar cintilante quando seu pai, François, a comprou em 1952, mas ele acabou se transformando em um retiro glamoroso para italianos ricos. Nos últimos dois anos, entretanto, o clube foi fechado enquanto uma obra o transforma em um resort rústico com 19 bangalôs, um restaurante à beira-mar e um hotel com sete quartos.
O hotel será o terceiro da área - o Piccolo Hotel del Lido e Hotel San Terenzo são os outros - a abrir nos últimos cinco anos; todos atendem a uma clientela rica. Várias novas estruturas estão em construção entre Lerici e San Terenzo. Mas a perspectiva de mais quartos de hotel e imóveis para curta estadia - e, inevitavelmente, maior turismo - ameaça o ar sutil de exclusividade da cidade, o que deixa os moradores desconfortáveis.
“Em Lerici, eles estão lutando para não ter turismo”, disse Mozer. Todavia, Lerici parece estar se preparando para a multidão que deverá chegar: bancos modernos agora adornam a praça principal e as grandes reformas do ano passado foram concluídas no calçadão.
Por ora, entretanto, Lerici continua sendo um lugar que os turistas precisam procurar ativamente. Transporte pode ser uma barreira. Como Lerici não possui estação de trem - um problema para os mochileiros - a maioria dos turistas chega de carro, apesar disso também ser um obstáculo.
“Estacionamento é um problema”, disse Laura Baroni, que juntamente com suas irmãs, Simonetta e Alessia, é dona da Enoteca Baroni, uma pequena loja e bar de vinho que ocupa o mesmo endereço em uma rua de pedestres no centro histórico de Lerici desde 1961. “Há apenas 500 vagas e não há para onde ir além disso”, ela acrescentou, mencionando o estacionamento pago principal próximo da praia pública de Venere Azzurra, a 15 minutos de caminhada do centro da cidade.
Além disso, não-moradores estão proibidos de dirigir no centro de Lerici, o que deixa os turistas com poucas alternativas quando o estacionamento está cheio, como é frequente durante o verão. Apesar da inconveniência, esta restrição limita o número de turistas e, por sua vez, permite que Lerici mantenha grande parte da autenticidade que cativa os visitantes há séculos. Situada atrás do castelo de San Terenzo, no extremo norte do calçadão, uma enseada de areia dourada e água esmeralda cintilante fica escondida pela linha costeira.
Construído nos penhascos rochosos bem acima da praia fica o igualmente isolado Vertigo Bar, como uma casa de árvore, que abriu há três anos. Um esconderijo sereno para um aperitivo vespertino, ele é um ponto que exige um certo esforço para achar, como a própria Lerici.
“É tranquilo, às vezes tranquilo demais”, disse o proprietário, Leandro Collini, enquanto o som das ondas ecoava além dos penhascos ao redor. “Mas”, ele acrescentou dando de ombros e com um sorriso, enquanto observava seus filhos brincando com amigos na praia abaixo, “eu gosto”.
Se você for
Onde ficar
O Piccolo Hotel del Lido (Via Biaggini 24, Lerici; 39-0187-968-159; locandadellido.it) abriu em 2006 e ainda é a opção mais luxuosa na cidade. Os 12 quartos minimalistas possuem terraços com espreguiçadeiras, chuveiros imensos e vistas panorâmicas do mar. Quartos duplos a partir de 210 euros, ou cerca de US$ 245, com o euro cotado a US$ 1,17 (com estacionamento).
Insista em um quarto com vista do mar no Hotel San Terenzo (Via Biaggini 42, San Terenzo; 39-0187-972-469; hotelsanterenzo.it) com 14 quartos, que abriu em maio de 2009. A cena do lado de fora das janelas do chão ao teto é tão impressionante que você nem notará a decoração banal. Quartos duplos com vista do mar a partir de 200 euros (estacionamento incluso).
Onde comer e beber
O Bonta Nascoste (Via Cavour 52, Lerici; 39-0187-965-500; www.bontanascoste.it) serve excelentes especialidades ligurianas como pesto, mexilhões e farinata, mas possui apenas oito mesas, então faça reserva.
Ignore os restaurantes medíocres na praça principal de Lerici e reserve uma mesa no terraço do Il Senatore (Via Byron 11, Fiascherino; 39-0187-967-236; locandailsenatore.com), um restaurante fantástico de peixes e frutos do mar com vista da praia em Fiascherino.
A Gelateria Arcobaleno (Piazza Garibaldi 20, Lerici; 39-348-755-3715) serve sem dúvida o melhor sorvete da área. O sabor Lerici - gelato de caramelo com pinhão torrado e chocolate - é realmente inspirado.
Para uma taça de Vermentino à sombra ou uma garrafa de Barolo 1978 para viagem, vá à Enoteca Baroni Enoteca Baroni (Via Cavour 18, Lerici; 39-0187-966-301).
O Vertigo Bar (Spiaggia Marinella, San Terenzo; 39-366-500-9919) é o bar com melhor ambiente e conta com música ao vivo nas noites de quinta-feira.
Tradução: George El Khouri Andolfato
fonte:http://viagem.uol.com.br/ultnot/2010/11/27/lerici-uma-beleza-italiana-sem-pretendentes-estrangeiros.jhtm
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