domingo, 3 de julho de 2011

O Parque Nacional Serra da Capivara (PI) pede socorro!

Apesar do cansaço de uma viagem turbulenta de mais de 5 horas por uma estrada incrivelmente esburacada de São Raimundo Nonato até Teresina, a Dra. Niède Guidon, arqueóloga que comanda o Parque Nacional da Serra da Capivara via Fumdham, brindou uma seleta platéia de médicos e convidados, esta semana, com uma brilhante palestra sobre este patrimônio natural da humanidade. Convidada pelo presidente da Academia de Medicina do Piauí, Dr. Lauro Lourival Lopes Filho, Niède enfrentou a árdua tarefa de percorrer meio sertão piauiense, apesar de seus 70 e poucos anos, para falar aos médicos em Teresina. O tema: O papel que a Serra da Capivara pode desempenhar no desenvolvimento econômico e social do Piauí. No final, foi aplaudida de pé.

O Parque, considerado pela Unesco com um dos mais bem estruturados do mundo, abriga nada mais nada menos que 970 sítios com pinturas rupestres, pinturas estas consideradas superiores e diferentes de tudo que existe mundo afora. Além disso, abriga um museu – o Museu do Homem Americano – que tem tecnologia de ponta e deixa muito museu, dito do primeiro mundo, no chinelo. Se estivesse funcionando a todo vapor, o Parque teria previsão de estar recebendo, pelo menos, 5 milhões de turistas por ano, das classes A e AA. Ou seja, uma classe de turista que deixa divisas por onde passa, mas em contrapartida, deseja conforto. Muito conforto. Este turista não quer passar por Teresina para testemunhar o encontro dos rios Parnaíba e Poty, nem interessa para ele ver a estátua descomunal do ‘cabeça de cuia’, assim como comprar artesanato no Poty Velho.

Este turista é diferenciado e poderia revolucionar a economia do Piauí do mesmo jeito que o agronegócio está revolucionando a economia de grãos no sul do estado. Ele viria de vôos charters da Europa, Japão, Estados Unidos e teria que ser tratado de maneira diferenciada. Não interessaria para ele ver uma cidade suja, cercada de lixo por todos os lados, como é São Raimundo Nonato hoje. Nem ia querer saber por que cortaram a luz e a água das torneiras aonde estaria hospedado, como acontece com uma freqüência surpreendente por ali. Estou falando de uma utopia? Nem tanto assim. Estou falando de uma política séria com uma visão desenvolvimentista que, infelizmente, ainda não há no Brasil, o que dizer no Piauí.

Se assim fosse, não haveria um corte de 52 milhões por parte da União como aconteceu recentemente e afetou profundamente o funcionamento do Parque ao ponto de faltar dinheiro até para o pagamento dos funcionários e fiscais do Parque. Com algumas guaritas sem fiscais, o Parque, que tem uma área de 240 km, tornou-se rota fácil para traficantes de drogas que desfilam por ali com a mesma desenvoltura e naturalidade das capivaras. Nas palavras da professora Niède, para manter toda a estrutura do Parque funcionando, seriam precisos pelo menos cerca de 300 funcionários e 40 mil reais por mês. O retorno disso para a economia do estado? Inimaginável...

Para ela, o que a União está fazendo é um crime contra a cultura pré-histórica do mundo e contra o povo do Piauí. Uma enorme placa (foto) nas proximidades do Parque exibe a suposta construção de um aeroporto internacional. Está lá fincada deste o dia 29 de abril de 2004. Mas, a idéia do aeroporto surgiu em 1997. E com verbas liberadas de lá para cá. Além disso, casas populares estão sendo construídas dentro do perímetro que é proibido, de acordo com a lei ambiental dos parques nacionais. Escolas que tinham convênio com a Itália e ensinavam crianças que, de outro modo, não tinham a menor condição de um ensino de nível, não existem mais, pois os recursos que vinham diretos para a Fumdham, passaram para as mãos dos prefeitos que fazem agora a sua própria distribuição de renda... familiar. Ainda estamos repetindo o modelo do Brasil colônia, com as capitanias hereditárias.

Apesar disso, a arqueóloga é forte e não desiste. Está propondo agora a privatização do aeroporto. Existem dois grupos interessados: um grupo de chineses e outro dos Emirados Árabes (o mesmo da Cia Aérea Emiraites). Mas, é preciso que o governador piauiense aprove esta nova proposta, já que a obra começada e não terminada, pertence legalmente ao Estado.

No meu ponto de vista é a chance do Parque Nacional da Serra da Capivara não sucumbir e cair definitivamente nas mãos de traficantes de drogas e dos caçadores. E de um trabalho de mais de 30 anos não virar lixo ou poeira da história. Chegou a hora de virarmos definitivamente esta página de nossa história e mostrar ao mundo que o Piauí existe. E que, ao contrário do que todo mundo pensa, é rico. Muito rico. Afinal, não foi por acaso que os primeiros homens americanos escolheram o Piauí para se fixarem, foi?

fonte: http://www.portalaz.com.br/coluna/marta_tajra/222453_a_serra_da_capivara_pede_socorro.html

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