Entrevista exclusiva. Essas palavras bastam para atrair a atenção de todo jornalista. Quando o entrevistado é alguém da importância de Paulo Kakinoff, que há três meses preside a GOL Linhas Aéreas, o evento se torna de fato especial. Na sede da companhia aérea, no aeroporto de Congonhas, o manda-chuva da companhia recebeu a reportagem do Melhores Destinos e fez alguns anúncios interessantes, como a adoção do check-in e embarque com smartphones e a implantação do serviço de venda de lanches em todos os voos em 2013. Além disso, a companhia estuda tornar regulares os voos para Miami, Orlando e Nova York. Em quase uma hora de entrevista, Kakinoff respondeu a todas as perguntas, esclarecendo inclusive polêmicas como os boatos de que a Qatar estaria tentando comprar a companhia, da entrada da GOL na aliança Skyteam e do interesse da companhia brasileira no leilão da TAP. De quebra, apresentou um pouco do panorama do setor aéreo, que vive um momento delicado devido à alta dos custos. Acompanhe os principais trechos da entrevista:
Melhores Destinos – Quais as novidades da GOL para nossos leitores, muitos deles passageiros e admiradores da companhia?
Paulo Kakinoff – Nós estamos mantendo e até intensificando o processo de renovação de nossa frota. A GOL tem como estratégia fundamental oferecer a frota mais moderna e jovem entre as empresas que operam Boeings 737. Nós temos acelerado bastante o processo de renovação com o objetivo de oferecer à maioria dos clientes a nova cabine da Boeing, a Sky Interior, que oferece mais conforto em todos os sentidos, visual, acústico e tátil. Essa nova cabine faz muita diferença na experiência de voo. A segunda notícia é a extensão de nosso serviço de venda a bordo, que tem sido muito bem recebido pelos nosso clientes. Dos nossos 900 voos diários, em 400 já há esse serviço e estamos ampliando de 5% a 10% por mês para termos em todos os voos no ano que vem. A terceira é que a GOL continua investindo em soluções inteligentes para facilitar e simplificar a vida de nossos clientes, desde inovações tecnológicas e melhorias nos processos de check-in tradicional no balcão à disponibilização de mais totens de atendimento e investimentos em tecnologia para uso de smartphones para todo o processo de compra e embarque. A partir do próximo mês os clientes poderão fazer o embarque apenas com o celular.
MD – Já a partir de outubro?
Kakinoff - A partir do próximo mês teremos já o piloto e até o final do ano deve estar disponível a todos os passageiros este recurso adicional.
MD – O senhor falou sobre novas tecnologias no check-in. Pode adiantar alguma coisa nesse sentido?
Kakinoff - Nós estamos rodando um sistema piloto que fará com que o tempo de cada check-in seja reduzido em aproximadamente 35%, o que obviamente terá um impacto muito grande na velocidade de atendimento.
MD – O assunto que mais tem preocupado os passageiros da GOL são as finanças da empresa. Ela está caminhando para voltar a dar lucro?
Kakinoff - Esse tem sido o maior desafio para todo o comitê executivo da companhia, em função da variação intensa que os fatores externos não controláveis pela empresa sofreram nos últimos doze meses. E aqui eu coloco em destaque o preço do querosene de aviação que é o mais alto da história no Brasil. Tivemos o recorde quebrado em junho e agora novamente em setembro. Em pouco mais de um ano tivemos um aumento de 40%. Só para ter uma ideia o peso do combustível nos custos totais da GOL também foi recorde. Cerca de 45% de todo o custo operacional está neste único item que é o querosene. Isso dá uma boa dimensão do desafio. Somado à variação cambial, com a valorização do dólar frente ao real, e ao aumento das tarifas aeroportuárias chegamos a um patamar recorde de resultado negativo para as companhias aéreas no segundo trimestre. Estamos trabalhando em todas as dimensões que são gerenciáveis por nós, em especial custos, eficiência e aumento da receita. Porém, não estamos enxergando uma reversão dessa tendência de adversidade trazida por esses três indicadores. É um momento de alerta para o setor todo, de trabalhos intensos e também de diálogo com o poder público no sentido de sensibilizar as autoridades que regulamentam o setor. A gente vê um movimento autêntico dessas autoridades em estabelecer um diálogo conosco e estamos estruturando isso por meio da nossa recém criada associação Abear. Um passo foi dado nesse sentido com a desoneração da folha de pagamento, porém, esse item isoladamente não é capaz de neutralizar nem 20% do impacto do aumento do querosene nos custos.
MD – Os cortes de custos da GOL já terminaram ou ainda há mais a ser enxugado?
Kakinoff - No que diz respeito à redução do número de voos e à consequente redução de colaboradores ligados a esses voos, eu diria que sim, dadas as condições atuais. Se houver uma degradação ainda maior no cenário macro possivelmente haja necessidade de novas medidas, mas no momento não há nenhum planejamento nesse sentido
MD – Falando em promoções, que é o foco principal do Melhores Destinos, o que a GOL tem planejado neste setor?
Kakinoff - As promoções são movimentos estratégicos nossos e obviamente dar grande previsibilidade para isso não é interessante para nós. Mas acho importante destacar que a GOL tem adotado medidas para reforçar seu posicionamento como uma empresa de baixo custo e melhor tarifa. Digo isso porque o modelo de precificação no setor aéreo é dinâmico. Não sei se é tão claro para todos os consumidores, mas ele está associado à velocidade de ocupação das aeronaves, de acordo com a antecedência e fluxo de vendas antes de voo. Para que as tarifas sejam comparáveis é importante se comparar as ofertas com a mesma antecedência e nesse sentido a gente tem o compromisso de oferecer as melhores tarifas, mesmo fora das promoções.
MD – Existem em outros países aquele modelo de venda de passagens muito baratas de última hora. Pluna e Passaredo fizeram algumas experiências, mas não temos nada assim no Brasil e muitos leitores perguntam sobre isso. A GOL pensa nessa estratégia?
Kakinoff - Não, para o nosso modelo de negócio e para o tipo de operação das nossas aeronaves nós temos um grau de segmentação muito forte, com clientes corporativos, governo, passageiros que compram diretamente conosco, agências de turismo, operadoras e agências online. Para atender a todos, precisamos manter uma consistência em nossa precificação. Nosso modelo de negócios não nos permite fomentar ações como esta, que normalmente acabam atendendo um número muito reduzido de passageiros, pois são aplicadas quando nível de ocupação daquele voo é baixo. Nós temos direcionado nossa política para termos de fato o preço mais atrativo no momento de compra mais conveniente para o cliente.
MD – A GOL lançou mais uma leva de voos chater a Miami e Orlando, além de voos a Nova York. Existe a possibilidade desses voos se tornarem regulares?
Kakinoff - Sim, a gente tem oferecido esses voos exclusivamente para nossos clientes Smiles e o que temos feito é o desenvolvimento desse produto, partindo dos nossos clientes frequentes. Eles são os mais exigentes, pois conhecem a GOL, preferem a GOL, viajam pela empresa há mais tempo em função dos nossos atributos específicos que queremos sempre reforçar, como segurança, inteligência de processo e desejo genuíno de servir o cliente sem abrir mão de nossos preços atrativos e da facilidade no acúmulo de milhas. Nós elegemos esse grupo para ser referência no desenvolvimento destes voos ao mesmo tempo em que estamos verificando a viabilidade econômica de atuarmos nessas rotas. Então existe sim a possibilidade de se tornarem voos regulares no futuro, não obstante o fato de não haver ainda nenhuma decisão nesse sentido.
MD – No curto prazo, então, está descartado?
Kakinoff - Nem descartado, nem confirmado. Estamos ainda na fase de desenvolvimento, não há uma definição.
MD – Muito se comenta e consta até na página da GOL na Wikipedia o pedido de nove Boeings 787 pela empresa. Isso é verdade?
Kakinoff - Não, não (risos) A Wikipedia é uma construção comum, livre e realmente não procede isso. É também parte do nosso posicionamento estratégico a padronização da frota. Isso tem um impacto importante em nossos custos e não há nenhuma intenção de abandonar esse modelo.
MD – E o casamento com a Delta, como anda?
Kakinoff - Muito bem! Agora estamos partindo para a segunda fase, que é a integração de sistemas. Desde o início do segundo semestre estamos aprimorando isso em etapas para permitir que até o terceiro trimestre de 2013 as duas companhias tenham, do ponto de vista do cliente, operações totalmente integradas para reservas, compras e nivelamento de status nos programas de milhagem. Os clientes Delta poderão adquirir as passagens da GOL por meio dos canais de venda da Delta e da mesma forma os clientes GOL comprando passagens Delta, também com experiências de voos equalizadas, com o clientes diamante do Smiles tendo os mesmos benefícios do status elite da Delta e vice-versa. A cada mês os clientes verão cada vez maior facilidade nisso.
MD – Alguma possibilidade de a Delta aumentar sua participação na GOL?
Kakinoff - Não, não há nenhum tipo de expectativa nesse sentido.
MD – A GOL já tem data para assinar a entrada na aliança SkyTeam?
Kakinoff - Não, o nosso planejamento não inclui a entrada da GOL em nenhuma aliança. Nós estamos bem satisfeitos com o posicionamento da empresa de trabalharmos com parcerias individuais com as companhias aéreas que apresentam maior nível de sinergia conosco sem fazer parte de nenhuma aliança.
MD – Qual é a vantagem de manter essa independência?
Kakinoff - As alianças representam custos importantes para as empresas e elas fazem sentido quando há também um benefício igualmente importante. A GOL tem como estratégia focar suas operações no Cone Sul e, em parceria com a Delta, estender a oferta de voos dos nossos clientes para a América do Norte. Esse mesmo modelo nós podemos fazer seletivamente com as companhias que atendem os destinos mais desejados pelos nossos clientes, como fazemos com a Air France, KLM, Qatar e Alitalia. Isso nos permite oferecer produtos estratégicos sem termos de arcar com os custos e restrições de uma aliança, que dificulta, por exemplo, fazermos parcerias com empresas de outras alianças mas que seriam estratégicas para a GOL.
MD – Vocês chegaram a receber um convite formal por parte deles para fazer parte da aliança?
Kakinoff - Geralmente não funciona dessa forma, por convite formal, e sim por análises, estudos, reuniões… Nós estamos sempre monitorando as oportunidades do mercado e eles também. As companhias aéreas de uma maneira geral, pela característica de nosso negócio, estão com frequência em contato. Eu diria que quase todas as companhias, pois muitas são fornecedoras de sistemas, de tecnologias,benchmark em determinados processos, outras têm interesses em negócios específicos… Então sempre as companhias aéreas estão conversando, independente de estarem em uma aliança ou não e a mesma coisa funciona na interação entre as alianças e as companhias aéreas.
MD – O senhor citou a Qatar, tivemos recentemente a nota da revista Veja que causou aquele burburinho todo, de que eles estariam interessados em comprar a GOL…
Kakinoff - Não, não procede. Especulação total.
MD – Eles nem chegaram a fazer uma proposta?
Kakinoff - Nada, absolutamente nada. A Qatar é nosso parceiro operacional. Vira e mexe surgem boatos de todos os tipos, pois como eu disse as empresas estão sempre se falando e pode haver algum evento que seja interpretado de uma forma mais interessante ou atraente do que a verdade pura e simples. Uma simples reunião operacional pode ser interpretada como uma negociação. Nesse caso específico não houve sequer uma reunião. Não temos a menor ideia da origem desse comentário.
MD – A GOL deixou de voar para Santiago nesse ano. Alguma previsão de retorno à cidade?
Kakinoff - Não, no momento nós não temos. A GOL tem um processo dinâmico de revisão da malha. No mesmo instante em que deixamos de voar para Santiago inauguramos rotas para outros destinos na América do Sul. Sempre nós olhamos as oportunidades disponíveis no mercado e avaliamos a viabilidade econômica desse mercado. No caso de Santiago não havia mais essa possibilidade.
MD – Algum outro destino na América do Sul?
Kakinoff - Sim! Mas ainda é confidencial por uma questão estratégica. O que já é oficial, saiu hoje (ontem) no Diário Oficial que a Anac concedeu novos voos para Estados Unidos, Bolívia e República Dominicana. Agora temos 180 dias para definir rotas e aeroportos nesses países.
MD – Para os Estados Unidos qual seria?
Kakinoff - Nova York, o voo que nós pedimos. Mesmo não sendo voo regular é necessário ter essa autorização.
MD – E quanto à Webjet?
Kakinoff - Nós aguardamos a definição do Cade. Foi adiado nesta semana, mas é um processo normal, usual, para a conclusão do processo de análise por todos os conselheiros. Não há nenhum movimento que possamos fazer enquanto não há essa definição.
MD – Mas a ideia hoje da GOL é manter a Webjet após a aprovação pelo Cade ou unificar as operações como GOL?
Kakinoff - Nós de fato só vamos tomar qualquer decisão com relação a isso após a aprovação pelo Cade, pois não sabemos como nem quando será feita essa aprovação. As transferências de aviões já foram concluídas a atual frota é suficiente para atender a malha da companhia.
MD – E quanto à TAP. Tivemos a declaração do embaixador brasileiro de que a GOL estava interessada…
Kakinoff - Não, nada…
MD – A GOL nem chegou a solicitar os editais do leilão? Não houve mesmo nada nesse sentido?
Kakinoff - Absolutamente nada. Nós recebemos todos os materiais e obviamente é nossa obrigação monitorarmos tudo que acontece no mercado. Obviamente temos conhecimento do edital, mas não há nenhuma intenção de nossa parte de participarmos desse processo
MD – Como o senhor vê o futuro da GOL nos próximos dez, vinte anos. Como imagina em termos de crescimento da empresa e em termos de mercado?
Kakinoff - A GOL deverá manter essa trajetória de crescimento mantida nos últimos doze anos, sendo uma companhia aérea com um papel de protagonismo no desenvolvimento do setor de aviação comercial no Brasil, mantendo as características que a levaram à trajetória mais rápida de crescimento, com os mais altos padrões de segurança, aviões modernos, uma frota jovem e soluções inteligentes, sempre com uma tarifa muito competitiva e atraente. Vamos manter nossa trajetória de crescimento com esses pilares que nos conduziram nos últimos anos.
MD – Nesse posicionamento como low cost há alguma companhia aérea no mundo que vocês espelham como objetivo a ser alcançado?
Kakinoff - Uma não, existem muitas companhias aéreas que servem de referência para a GOL em setores específicos – e não só necessariamente no setor low cost. Esse é um dos motivos das diversas interações entre as companhias aéreas. Existem muitas empresas com processos acima da média em termos de qualidade e custo e não necessariamente uma companhia se destaca em todos os aspectos. Então temos várias companhias que nos servem de referência, de inspiração.
MD – Algum exemplo?
Kakinoff - Tem várias: Southwest, Easyjet e Alaska, só para citar algumas. Uma delas, que não é low cost, e que tem no servido de muita referência em termos de processos é a própria Delta. Um dos principais ganhos da parceria com a Delta foi de poder ter acesso a uma série de procedimentos de alto padrão de excelência que a Delta oferece e que têm contribuído muito para o aprimoramento da GOL.
MD – Como o senhor vê a preparação do Brasil para os grandes eventos esportivos dos próximos anos. Especificamente no setor aéreo, acredita que vamos conseguir montar uma estrutura minimamente capaz de atender?
Kakinoff - Vamos. Pela natureza de nossa atividade temos estado bem envolvidos com as ações que estão sendo tomadas no setor de infraestrutura pelos poder concedente. Óbvio que há uma preocupação de todos nós com relação ao calendário, mas até este presente momento nós temos uma expectativa muito positiva de que nós teremos todas as condições de desempenhar um ótimo papel na recepção destes dois eventos esportivos mundiais. Com respeito à GOL, especificamente, nós estaremos preparados.
fonte: www.melhoresdestinos.com.br
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