Felipe Mortara/Estadão
Sob o sol, a arquitetura toscana nem parece tão adequada às histórias assustadoras
Dobrávamos esquinas de mais de dois mil anos enquanto a guia brasileira Cristina - temos compatriotas até na pequenina Volterra - contava a história de Bella (Kristen Stewart) e Edward (Robert Pattinson), o casal da saga. O romance entre o vampiro galã do bem e a jovem mortal volta às telas na quinta-feira com a estreia de Amanhecer - Parte 2, o capítulo que encerra uma das séries cinematográficas mais bem sucedidas dos últimos tempos.
Para entender o tamanho do fenômeno, que já vendeu mais de 116 milhões de livros e arrastou outros tantos milhões de espectadores aos cinemas de todo o mundo, segui os passos dos ídolos no New Moon Tour. Desde 2009, o passeio levou mais de 13 mil fãs - a maioria adolescentes, com ou sem os pais - para percorrer a charmosa cidadezinha italiana. Não é o único: há roteiros temáticos em Forks e Portland, nos Estados Unidos, em Vancouver, no Canadá... Por onde passam, os filmes da série transformam seus cenários em atração turística concorrida.
Ali em Volterra, a esperta guia não demorou para perceber que nenhum dos jornalistas do grupo - já bem passado da puberdade - havia assistido ou lido sequer um episódio da saga. E caprichou no jogo de cintura para prender nossa atenção com pílulas de curiosidades.
Por que Volterra se há tantas vilas medievais por aí? A autora Stephenie Meyer queria batizar sua cidade fictícia de Volturin (o clã dos vampiros que detêm o poder se chama Volturi). Mas descobriu, no Google, que Volterra e sua charmosa - e algo sombria - Praça dei Priori eram os lugares reais com que sonhara. Acabou batizando com o nome da cidade o capítulo 20 do livro Lua Nova.
No filme homônimo, as imagens externas de Volterra foram - pasme - filmadas na vizinha Montepulciano, já que a original não tem uma fonte no meio da praça, como queria o diretor, Chris Weitz. O que não afeta em nada a curiosidade dos fãs pela cidade dos Volturi.
Entrando no clima. Mesmo sem acelerar o Porsche amarelo de Edward Cullen, até que entramos rápido no clima da história. Primeira parada: Porta San Francesco, construída pelos etruscos por volta do século 1.º a.C., a entrada da parte fortificada da cidade, protegida por 7 quilômetros de muralhas e onde não entram carros. Nem na ficção.
Os estacionamentos costumam ficar cheios - mas há sempre uma vaguinha para carro de galã. Dali em diante seguimos pela Via Franceschini, deserta às nove da noite, quase nos sentindo personagens da saga. O vento parecia assoviar pelas estreitas vielas molhadas.
Mais alguns passos e alcançamos a Praça dei Priori, símbolo da arquitetura medieval e cenário de um festival vampiresco no episódio, com todos vestidos com mantos vermelhos. Diante do Palácio dei Priori pode-se muito bem imaginar o vilão Aro (Michael Sheen) organizando seus banquetes à base de sangue.
Cuidado! A guia aplica um susto em todos, só para lembrar que a temática é vampiresca. No Vicolo Mazzoni, ela tenta animar o pessoal e convoca dois do grupo para representarem Edward e Bella na cena em que a moça dá de cara com o amado no beco estreito. Fiz cara de guarda-chuva e fui poupado de bancar o galã. Eu mal sabia o que me esperava.
O ritual. Uma porta se abre, velas indicam o caminho escada abaixo. Passo a passo, o clima fica tenso. Ruídos que lembram gritos ecoam. Chegamos a uma cisterna romana do século 1.º a.C., com cerca de 10 metros de comprimento por quatro de largura, com teto baixo e abobadado. A luz fraca vem apenas de um candelabro com quatro enormes velas vermelhas sobre a mesa.
Há dois vultos, com mantos de cetim e capuzes, e um terceiro, que desce as escadas. As mulheres gritam enquanto os três se reúnem na ponta da mesa, e, com taças de líquido vermelho nas mãos, começam o "ritual".
Desta vez não havia guarda-chuva para me proteger do mico. Uma mulher toda coberta me puxou até a mesa, onde me deitou. Eu ria, ela tentava me assustar. Confesso que senti um misto de nervosismo e constrangimento quando percebi que estava sendo mordido no pescoço. Mas as gargalhadas depois valeram a pena. E não, não virei vampiro. Pelo menos por enquanto.
fonte: www.estadao.com.br
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