- DivulgaçãoPraia em Natal: capital do RN já tem elevação de 250% no preços dos hotéis para o período da Copa
O preço médio nos hotéis das doze capitais escolhidas como sede da Copa do Mundo de 2014, a partir de junho do ano que vem, já está cerca de 100% mais caro que no mesmo período de 2013. A exceção fica por conta dos hotéis em Salvador e Natal, que estão cobrando em média diárias até 250% superiores às praticadas no mesmo período deste ano.
A tendência de elevação nos preços deve ser acentuada conforme o início o Mundial da Fifa (Federação Internacional de Futebol) se aproxima. Os números são resultado de uma pesquisa realizada pelo Fohb (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) em 248 hotéis de 26 grandes redes hoteleiras nas capitais que receberão jogos da competição, apresentada ao comitê interministerial do governo federal criado para acompanhar a evolução de preços dos serviços durante a Copa e tentar conter eventuais abusos.
No dia 19, o UOL Esporte revelou que a Fifa, a Match Services AG -- operadora de turismo oficial da Fifa que organiza a viagem das delegações e vende pacotes de hospedagem e ingressos VIP para a Copa em todo o mundo -- e as grandes empresas estavam dominando as reservas nos hotéis das cidades-sede do mundial de futebol, e assim restava apenas 3% dos quartos para os "torcedores independentes".
A menor projeção de elevação no preço das diárias dos hotéis durante a Copa é em Cuiabá. Segundo a pesquisa, a elevação média nas diárias está em cerca de 50% nesta época. Justamente na capital do Mato Grosso, o UOL Esportemostrou no dia 16 que uma parceria entre um hotel da cidade e os portais Decolar.com e Booking.com havia elevado a tarifa em 4.000% nos quatro dias que a cidade recebe jogos do Mundial. Uma noite em quarto simples no hotel três estrelas era vendida por R$ 4.100. O Procon-MT notificou os envolvidos e o negócio foi desfeito.
Em Salvador, o preço médio das diárias está cerca de 200% maior que no mesmo período de 2013 na maioria dos estabelecimentos. Dentre os hotéis da pesquisa, foi utilizada uma amostra de 203 hotéis pertencentes às grandes redes associadas ao Fohb e dentre hotéis independentes nas 12 cidades-sede da Copa. A pesquisa aponta também que em Manaus e Fortaleza o aumento no preço dos quartos de hotéis chega a cerca de 125%. Em Brasília e Belo Horizonte, o aumento médio está em cerca de 90%, enquanto que em Porto Alegre fica na casa dos 80%.
'Acontece em qualquer lugar do mundo'
De acordo com Flávia Matos, diretora executiva do Fohb, é bom lembrar que o aumento mostrado na pesquisa é o que foi constatado até agora, e que é natural que conforme a Copa se aproxime, a elevação de preços fique cada vez acentuada. "Isso Não é uma particularidade do Brasil, acontece em qualquer grande evento em qualquer lugar do mundo", diz ela.
Na pesquisa, a entidade patronal das redes de hotéis inclui exemplos para mostrar que a evolução é parecida em outros lugares do mundo. De acordo com o levantamento, as diárias de hotéis ficaram em média quase 100% mais caras no período da Copa em Berlim e Dusseldorf, em 2006, enquanto que em Munique e Colônia não chegou a 75% de elevação. Na Cidade do Cabo, durante a Copa de 2010 na África do Sul, as diárias de hotéis estavam cerca de 130% mais caras que no mesmo período do ano anterior.
O estudo mostra que durante o festival de cinema de Cannes de 2014, na França, o D`Antibes Beach Hotel cobra R$ 2.300 por uma reserva. Antes do festival, a diária é de R$ 1.164. Para o SuperBowl 2014 o Hotel Hilton, em Novo Iorque, nos Estados Unidos, cobra R$ 3.019 por um quarto simples. Poucos dias antes do jogo o mesmo quarto sai por R$ 778. O câmbio utilizado foi de um dólar igual a R$ 2,20.
No Brasil a tendência é parecida. O Hotel Fiesta de Salvador está cobrando R$ 1.065 no quarto de casal no Carnaval do ano que vem. Semanas antes, o preço pela mesma acomodação é de R$ 189, de acordo com o levantamento do Fohb. A virado do ano no Miramar Hotel do Rio de Janeiro sai por R$ 5.699 o quarto de casal no dia 31. Semanas antes, o preço é R$ 778.
Reserva de mercado?
A Match já bloqueou (ou seja, fechou contratos para reserva antecipada) 45% dos quartos nos hotéis pesquisados. Outros cerca de 40% (previsão do setor) ficam reservados para grandes clientes corporativos tradicionais das empresas hoteleiras, e 12% dos quartos já foram vendidos para torcedores independentes. Assim, nos grandes hotéis das cidades-sede restam apenas cerca de 1.700 dos 55.894 quartos nos hotéis da pesquisa, que abrange 69% dos quartos disponíveis nas cidades-sede, sem contar outros meios de hospedagem como albergues.
A empresa não confirma, mas fontes ligadas à organização dos pacotes dizem que a Match já vendeu R$ 440 milhões apenas em hospedagem para a Copa de 2014. A meta seria de R$ 650 milhões. A Match refuta que a quantidade de bloqueios que realizou nas cidades-sede e cidades próximas criou uma reserva de mercado para ela revender e que isto esteja inflacionando de maneira abusiva e artificial os preços das diárias.
"Dada a sua responsabilidade, a Match Services concentrou-se em contratar estoques de quartos adequados aos propósitos das entidades que precisa atender", diz a nota enviada ao UOL Esporte sobre esta questão. "A Match Services também assegurou um estoque de quartos que serão disponibilizados para venda a outros importantes grupos de clientes da Fifa como os parceiros comerciais da entidade (isto é, patrocinadores e detentores de licença), a imprensa e os clientes do Programa Oficial de Hospitalidade.? Portanto, a Match está proporcionando principalmente um serviço a grupos constituintes da Fifa. Com a exceção da Fifa/COL e das delegações das seleções, todos os outros membros da família da Copa do Mundo da Fifa recebem ofertas opcionais de hospedagem e, portanto, estão livres para reservar diretamente com os hotéis ou por meio de outros intermediários".
A Match diz que em apenas alguns casos os hotéis escolhidos cobram diárias acima do normal, e que está em negociação com os estabelecimentos há cerca de seis anos. A empresa afirma oferecer preços justos, acessíveis e dentro do que é praticado no mercado. "Esses preços são ditados por negociações da Match Services com os hotéis. Eles não são resultado de um abuso de uma posição dominante da Match Services. São, na verdade, resultado do fato de que a indústria hoteleira mundial há muitas décadas vem tendo altos rendimentos por pernoite durante grandes eventos, sejam eles uma grande conferência, o Carnaval, o Ano Novo, um festival de cinema ou corridas de Fórmula 1".
Governo silencia
Questionado pela reportagem sobre a legalidade das reservas da Match, se isso configuraria uma formação de cartel, monopólio de mercado ou qualquer outra prática econômica ilegal, o Ministério da Justiça e a Senacon não responderam. A reportagem também ficou sem resposta do governo federal sobre qual seria o próximo passo do comitê interministerial, qual havia sido o resultado da última reunião e se já havia algum resultado prático do trabalho do grupo.
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