quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Beber, rezar e estudar: queridinha dos intercambistas, Irlanda surpreende

A "capital do oeste" da Irlanda não passa de 80 mil habitantes. O tamanho, porém, esconde uma profusão histórica e cultural que encanta os visitantes da cidade de Galway.
Destino de muitos brasileiros que buscam o país para fazer intercâmbio, Galway vê sua população acrescida anualmente com 20 mil estudantes que chegam em busca de uma de suas universidades. O resultado é uma efervescência cultural que aflora dos menores pubs aos grandes festivais que anualmente agitam a cidade, como o Festival de Artes. Tudo sem deixar para trás as tradições irlandesas, com suas lindas igrejas e castelos.
O condado que leva o nome da cidade abriga mais de 50% dos Gaeltacht, como são conhecidos os locais onde o gaélico irlandês é a língua predominante. Nada melhor que uma caminhada pelo centro histórico para mergulhar nesse mundo que remete a mil anos atrás, quando era apenas uma vila de pescadores no ponto onde o rio Corrib desagua na baía de Galway.
Dali ainda é possível observar resquícios da muralha construída pelos invasores vikings, em 1217. Próximo dali, o Eyre Square Shopping Center também guarda parte dessa história, já que foi construído em volta de outro pedaço da muralha.
Cerveja e igreja
No pub The Kings Head a história sobrevive entre copos de Guinness, a cerveja escura tradicional do país. Localizado em um prédio construído há 800 anos, conta-se que o executor do rei da Inglaterra Charles 1º viveu no prédio que hoje abriga o pub, justificando o seu nome "Cabeça do Rei". 
Perto dali, a Igreja de São Nícolas é a maior paróquia medieval da Irlanda em uso contínuo, com suas partes mais antigas datando de 1320. Ela carrega marcas do domínio inglês na região, já que foi convertida de católica para protestante. Dizem que o navegador Cristóvão Colombo rezou na igreja em 1477 antes de sair para descobrir o novo mundo.
Felipe Floresti/UOL
Casa de monges beneditinos, o Kylemore Abbey fica à beira do lago Pollacappul
Naquela época (séculos 14 ao 17), Galway era conhecida como "Cidade das Tribos" por ter o poder dividido entre 14 famílias tradicionais. Pertencente a uma dessas famílias, o Castelo de Lynch, na Shop Street, é a principal marca do período, sendo um dos mais conservados exemplos de casa medieval do país.
No lado oeste do rio Corrib, fora da antiga cidade murada, fica a vizinhança de Claddagh. Composta basicamente por pescadores, tem como curiosidade o fato ter sido governada por um "rei" eleito até 1972. Apesar de hoje em dia o "rei" pouco representar, a vizinhança mantém a tradição, com direito à cerimônia de coroação. O atual se chama Michael Lynkey.
De lá também vem um dos souvenires mais procurados de Galway: o anel de Claddagh. Produzido desde o século 17, se tornou parte das tradições irlandesas e traz a imagem de duas mãos (que representam amizade), um coração (amor) e uma coroa (lealdade).
Ilhas Aran
Para ir além, as Ilhas Aran, no final da baía de Galway, é o destino. Acessada por barco ou pequenos aviões, logo ao chegar já dá para perceber a diferença da vida no pequeno arquipélago. Os habitantes locais usam principalmente o gaélico como idioma corrente. 
As ilhas Aran são compostas por três grandes formações de rocha calcária, com pouquíssima vegetação. Ao longo do tempo, seus habitantes foram partindo as pedras e formando milhares de muros de pedras pelas ilhas, abrindo espaço para um pouco de solo e, assim, possibilitar a agricultura. Com poucos recursos naturais, não atraiu o interesse dos conquistadores ingleses, mantendo assim sua cultura.
Esse fato, porém, está longe de dizer que as ilhas são desinteressantes. Vide as primeiras marcas de ocupação humana, que datam de 3.000 anos antes de Cristo. Tumbas datando de 2500 a.C. encontradas na ilha principal, chamada de Inis Mór, ou Ilha Grande em gaélico, são as construções mais antigas.
Felipe Floresti/UOL
Uma das pequenas praias das Ilhas Aran, na baía de Galway, Irlanda
Tudo parece cenográfico. Casas modernas dividem espaços com antigas construções de pedra com tetos de palha que seguem sendo habitadas. Ruínas de antigas igrejas e cemitérios estão espalhados por todas as ilhas, assim como fortes militares. 
A maioria dos turistas opta por alugar bicicletas para desbravar com calma as ilhas, passando pelas pequenas e belas prainhas do local. No total, sete fortes das ilhas Aran são considerados Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. O forte Dún Aonghasa, no ponto mais alto da ilha principal, é o destaque. A parte mais antiga de sua construção data de 1100 a.C.
Um centro de informações localizado no pé do morro que serve de sítio arqueogeológico fornece todas as informações sobre o local, mas é chegando ao topo que se percebe o encanto do local. O forte está construído na beirada de um penhasco 100 metros acima do nível do mar. A vista é de tirar o folego, sendo necessário controlar o medo para chegar bem pertinho da beirada.
"Bogs"
Para mergulhar um pouco mais na natureza do oeste irlandês, o Parque Nacional Connemara é atração imperdível. São pouco menos de 3.000 hectares de montanhas, campos, florestas, pântanos e os curiosos "bogs", que são camadas e camadas de musgos que cobrem boa parte do local.
Existem diversas opções de caminhadas até lagos e topos de montanha no parque, mas a mais frequentada e única que pode ser feita sem guia é até o topo da Diamond Hill. São 7,6 km de caminhada, ascendendo até 423 metros de altitude. Do topo, enquanto o corpo tenta resistir à ventania gelada, a vista alcança toda a cadeia montanhosa que cerca a região, o Oceano Atlântico e, no pé do morro, outra atração local: o Kylemore Abbey.
O castelo localizado em uma encosta à beira do Lago Pollacappul é um dos destinos mais românticos da Irlanda e o mais visitado do oeste do país. O rico casal Mitchell e Margaret Henry se encantou tanto com a região durante a viagem de lua de mel, que ele decidiu presentear a esposa com o castelo em 1871. A felicidade durou pouco, já que ela faleceu três anos depois. A capela gótica construída em 1877 abriga os restos mortais de Margaret.
Foi posteriormente vendido aos extravagantes duques de Manchester, que o perdeu apostando em um jogo de cartas. Permaneceu praticamente abandonado até 1920, quando monges beneditinos escolheram o local para viver em clausura. Os monges ainda vivem por lá, em uma área isolada do castelo, mas a clausura foi interrompida pela presença massiva de turistas que querem conhecer o belo edifício. Coloridos e bem cuidados jardins vitorianos complementam a agradável visita.
*O repórter Felipe Floresti viajou a convite do Tourism Ireland 

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