A crise bancária no Chipre despertou certos temores sobre o turismo e o efeito que terá sobre este setor que, junto com os serviços financeiros, é um dos pilares sobre os quais se sustenta a economia cipriota.
"Já vendemos apenas passagens de ida", lamentou Demos Kyprianu, diretor da pequena agência de viagens Mardem, localizada em Nicósia.
"São para os búlgaros, romenos e poloneses que querem voltar para sua casa. Tinham vindo trabalhar aqui de pintores, pedreiros e marceneiros, mas já viram que isto acabou", acrescentou.
Segundo diversos dados, em 2012 chegaram ao país - que tem 800 mil habitantes - em torno de 2,5 milhões de turistas, o que reportou receitas de cerca de 2 bilhões de euros (11,5% do PIB).
Os lucros do turismo foram em um aumento constante nos últimos anos, após focar-se em viajantes de maiores possibilidades econômicas, com a construção de vilas, mansões e clubes de luxo cada vez mais imponentes, principalmente em localidades litorâneas como Pafos, Limassol e Ayia Napa.
A quinta parte da capacidade hoteleira da ilha são hotéis de cinco estrelas e mais da metade dos apartamentos estão catalogados como de luxo ou classe A, de acordo com os dados da Organização de Turismo do Chipre (CTO).
Mas, além disso, o turismo esporeou outras indústrias, como a da construção, o que não só forneceu trabalho e crescimento econômico, mas enriqueceu muito cipriotas que venderam suas terras para construir hotéis ou apartamentos; o que gerou uma grande bolha imobiliária: apenas entre 2006 e 2008 o preço do imóvel cresceu 50%.
Agora a crise bancária do Chipre começou a fazer os cidadãos deste país mediterrâneo se perguntar sobre os efeitos que terá em um de seus principais meios de vida.
De fato, a reestruturação dos bancos - que representará perdas de entre 40% e 80% para os clientes com contas de mais de 100 mil euros no Banco do Chipre e no Popular - põe em perigo a viabilidade de "milhares de empresas", segundo a Associação de Pequenas e Médias Empresas do Chipre.
E os limites estabelecidos aos movimentos de capital - que impedem, por exemplo, tirar mais mil euros do país e mais de 300 euros diários dos caixas dentro do Chipre - podem assustar os potenciais turistas.
Calcula-se que estas restrições estarão vigentes em cerca de um mês, mas na quinta-feira, em um ato organizado pela CTO, o ministro de Turismo e Comércio, George Lakkotrypis, pediu o esclarecimento da situação para evitar que os visitantes sintam "insegurança" e poder "fornecer aos turistas tudo o que necessitam quando estejam de férias no Chipre".
No entanto, o presidente da CTO, Alekos Oruntiotis, assegurou que por enquanto "não houve um problema sério" com os cancelamentos de viagens.
"Pelos dados que nos oferecem as agências e os hotéis, só houve cerca de 100 cancelamentos", explicou à Efe o presidente da Associação de Agências de Viagem, Victor Mantovani.
"Isso não é o que nos preocupa, o que tememos é que no futuro diminuam as reservas", continuou.
Segundo Mantovani, nas duas semanas que permaneceu vigente o "corralito", as reservas turísticas do Reino Unido e da Rússia caíram 25%, enquanto as da Alemanha - o país contra o qual a maioria dos cipriotas dirige sua raiva - desabaram mais de 50%.
Por país de origem, a maior parte de visitantes procede da antiga metrópole, o Reino Unido, com 42%, seguido da Rússia (21%), que quadriplicou o envio de turistas nos últimos sete anos.
Os países escandinavos representam 11% das chegadas, seguidos por Alemanha e Grécia, com 6% cada.
"Por enquanto os dados não são drásticos, mas espero que não continuemos nas manchetes da imprensa, porque isso sempre prejudica o turismo", comentou Mantovani.
O ministro Lakkotrypis pediu sensatez à população ao dizer que, embora respeite o direito a manifestar-se, é "responsabilidade" de cada cipriota "proteger o turismo".
O maior medo das autoridades e dos empresários é se transformar em uma nova Grécia, onde as imagens de distúrbios causaram graves prejuízos à indústria turística.
"Cruzamos os dedos, porque o turismo é a única coisa que vai restar ao Chipre para conseguir receitas, depois que destruírem o setor financeiro", concluiu Mantovani.
fonte: www.uol.com.br
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