Os moradores de Fortaleza convivem frequentemente com o medo e sensação de insegurança. Confessam que tomam cuidados contra assaltos e alguns dizem já ter mudado suas rotinas para se prevenir de possíveis ataques de bandidos. Nos pontos turísticos da Capital, onde a movimentação de pessoas é intensa, a situação não é melhor. Quem transita pela Avenida Beira-Mar, Theatro José de Alencar, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Praia do Futuro e Praia de Iracema tem reclamado da falta de segurança.
No último dia 30 de novembro, um homem identificado como José Leonardo Mesquita Gomes, 24, foi morto na Avenida Beira- Mar, durante um tiroteio. O turista baiano Cláudio Santos, 32, que caminhava pelo calçadão foi ferido por uma bala perdida. O militar do Exército Brasileiro, Herbert de Vasconcelos, cita o evento para explicar que a violência em Fortaleza é endêmica.
“Moro aqui nas redondezas há muito tempo e só vejo a situação piorar. Por conta do apelo turístico, a Beira-Mar está bem policiada, mas isto não resolve o problema. Os roubos e furtos continuam e os criminosos sempre acham um jeito de driblar a Polícia. Este é um problema que alcançou níveis gravíssimos”.
A enfermeira Luíza Soares, que veio do Rio Grande do Sul passar a lua de mel no Ceará, disse ter recebido orientações da equipe do hotel em que está hospedada, na Beira-Mar, sobre precauções de segurança. “Alertaram para não andar em ruas desertas, evitar visitas a algumas áreas da cidade em horários específicos e sempre levar apenas o dinheiro suficiente para o passeio do dia. Nada de joias e relógios também”.
Quem decide ir à Praia do Futuro também diz não estar tranquilo. A pedagoga Liduína Pereira preferiu levar os netos para o banho de mar, em um dia útil, para evitar o tumulto do fim de semana. “Temos que pensar em meios de chegarmos ilesos em casa. Já levaram meu carro com meu filho dentro feito refém. Foi uma situação pavorosa. Por causa da violência, não saio à noite”, afirmou Liduína.
Centro
No Centro da Cidade, a situação não é diferente. As pessoas passam apressadas, como se estivessem em fuga. A vendedora ambulante Ademara Viana, que trabalha na calçada do Theatro José de Alencar, afirma que os passeios ao ponto turístico diminuíram. “A maioria das visitas são de escolas, os turistas são pouquíssimos. As pessoas passam tão rápido, com medo de serem roubadas, que nem percebem que estão na calçada do teatro”.
Nas proximidades do Dragão do Mar, o guardador de carros Francisco Esteves disse que a Polícia não tem sido eficiente. “A gente já conhece as caras de quem rouba e arromba carros, porque são as mesmas. O pessoal denuncia, pede mais atenção da Polícia, mas não adianta”.
A técnica de enfermagem Rosemary Batista, que diz passar todo dia pela Praça do Ferreira, afirmou ser necessário se esconder para fazer transações bancárias ou atender ao telefone. “Aqui tem policial, mas fica parados dentro de uma cabine. De que isso adianta? É preciso correr atrás da Polícia e convencê-la a ir atrás do assaltante”.
No entorno da Catedral, o vendedor João Fonseca, há 30 anos trabalhando no local, não acredita que vá melhorar. “Já que estou perto da Igreja, eu rezo para que nada me aconteça. Só Deus é por nós nessa Cidade de cabeça para baixo”.
ENQUETE
Você acha que a Polícia tem sido eficiente?
“Tem um carro arrombado há dois dias parado na esquina do Dragão do Mar. A Polícia foi chamada mil vezes e nada de resolver. Eu que trabalho aqui todos os dias quase não vejo viaturas passando”.
Rodrigo Silva
Mototaxista
Mototaxista
“Cheguei há dois dias de Salvador para visitar Fortaleza e estou adorando a cidade. Vejo muitos policiais na rua e tenho me sentido segura sim. Até agora, não vi nada que eu considerasse como perigoso”
Maria Alice Soledade
Assistente social
Assistente social
Centro e orla da Capital têm policiamento reforçado
O policiamento no Centro da Cidade e na orla estão sendo reforçados por operações que acontecem durante o período em que a movimentação é maior nestes dois pontos da Capital, conforme o coronel Francisco Souto, comandante da 1ª Cia do 1ºBPM (Centro). Segundo ele, 110 homens atuam no patrulhamento especificamente do Centro.
Até o fim do ano, tem seguimento a ‘Operação Centro Seguro’, que prevê a diminuição da prática de delitos, como assaltos e arrastões. Além das patrulhas da 1ª Cia, que estão distribuídas em duplas a pé, duas trincas de motocicletas e patrulhas em três viaturas, reforços do Comando Tático Rural (Cotam), da Cavalaria e do Batalhão de Policiamento de Eventos (BPE) estão ajudando nesta ação policial. “A área está tranquila e temos registro de poucas ocorrências. Porém, sabemos que aumentando a quantidade de pessoas transitando no Centro, os criminosos vão tentar investir mais contra elas”, disse F. Souto.
O coronel afirmou que a Praça do Ferreira, a Catedral Metropolitana, o Dragão do Mar e o Theatro José de Alencar têm policiamento fixo todo o ano. Conforme o oficial, o índice de crimes nestes locais é baixo, mas pede que a população acione a Polícia caso seja vítima de algum tipo de crime.
“É necessário que as pessoas acionem o policiamento. Não podemos resolver uma ocorrência se não tomarmos conhecimento. As estatísticas de crimes no Centro têm diminuído consideravelmente, de acordo com os Boletins de Ocorrência (B.O.)”.
Segundo ele, a preocupação maior é com a área denominada Micro-Centro, que compreende as Ruas General Sampaio, Pedro Pereira, Floriano Peixoto e Guilherme Rocha. “A preocupação se dá por conta do número de pessoas concentradas nas lojas. A tendência é que os policiais sejam pulverizados em diversos pontos, para impedir crimes comuns em aglomerações”.
Orla
O Comando Geral da PM informou que a orla de todo o Estado é patrulhada por equipes do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur). A área que compreende a Praia do Futuro, Beira-Mar, Praia de Iracema e Vila do Mar conta com cerca de 400 PMs neste Batalhão, conforme a instituição. O comandante geral da Corporação, coronel Lauro Prado de Araújo Carlos, afirmou que o policiamento é suficiente para atender as ocorrências geradas durante o ano, mas já está sendo reforçado para a alta estação.
“Contamos com viaturas, policiais a pé e motocicletas em toda a orla. Os PMs a pé se dividem em pontos nos quais existe um maior fluxo de pessoas e de ocorrências. Eles não são fixos e devem ser movimentados, de acordo com as necessidades”. Lauro Prado disse, ainda, que os roubos e furtos na área diminuíram.
Tranquilidade para toda a Cidade
Uma estratégia de melhoramento da segurança e de preservação de toda a Cidade, não apenas dos pontos turísticos, precisa ser colocada em prática, conforme a professora doutora Jânia Perla Aquino, do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ela acredita que o distanciamento do fortalezense dos pontos turísticos foi potencializado pela violência, mas considera que esta não é a principal causa.
“Historicamente, há um descaso com o patrimônio público por parte das gestões que se sucederam. Se você olha para a Cidade, ao contrário de outras capitais do Nordeste, tudo em Fortaleza tem cara de ser recente. Os gestores não se importaram em manter o conjunto de histórias e memórias que deveriam ter sido preservados. A população também não é educada para preservar. Não faz parte da identidade da população se apegar aos acontecimentos históricos da Cidade, nem visitar os pontos que fazem parte desses acontecimentos”.
Jânia Aquino diz que Fortaleza investiu no turismo voltado para praias e restaurantes e têm tentado voltar a segurança para quem frequenta estes espaços. “As pessoas podem não estar satisfeitas, mas não parece terem desistido da Beira-Mar, por exemplo, que continua lotada. Onde é preservado, ou seja, nos lugares em que os turistas passam, existe um policiamento ostensivo. Se compararmos o que vemos de Polícia na Beira-Mar com um bairro de classe média, já vamos perceber que há um número muito mais elevado de PMs na área turística. Fazendo a comparação com os bairros da periferia, veremos que a atenção ostensiva se torna irrisória”.
A pesquisadora ressalta que a violência tem modificado a vida das pessoas que vivem em toda a Cidade e que todas elas deveriam receber igual atenção. “A violência e o medo têm interferido na dinâmica da Cidade de várias formas. As medidas de segurança não devem ter assistência seletiva, só para lugares frequentados por turistas. Toda a população precisa estar tranquila e ser incentivado a visitar estes lugares históricos”.
PM monta plano para as festas de fim de ano
Além das Operações ‘Centro Seguro’ e ‘Alta Estação’, que já acontecem no Centro e na Orla, o Comando Geral informa que são feitos os planejamentos para a segurança de eventos específicos durante este mês, como o sempre movimentado Revéillon da Praia de Iracema.
O plano operacional do evento considerado como um dos maiores do Brasil já está em andamento . “Tanto estas operações voltadas para a movimentação em um determinado espaço como os eventos de Ano Novo não podem comprometer o policiamento ostensivo do restante do Cidade. Não podemos retirar homens de uma área e deixá-la descoberta. Este trabalho de planejamento prevê organizar uma escala de trabalho em que Fortaleza inteira esteja segura”.
Essas ações que ocorrem no fim do ano são integradas e contam com apoio do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil. “É muito importante esta cooperação. Na área da orla, por exemplo, os bombeiros ajudam muito. Se uma pessoa comete um crime e corre para dentro do mar, como ocorre com certa frequência, eles darão suporte nesta captura utilizando botes e motos aquáticas. Estamos, de todas as formas, tentando fazer com que a população saia de casa com tranquilidade”, disse o comandante da PM coronel Lauro Prado.
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