sábado, 27 de setembro de 2014

Comidas, tours e exposições em Berlim revivem época da Alemanha comunista

Nos últimos anos, a Alemanha parece ter sido tomada por um único sentimento: a nostalgia pelos anos socialistas no lado oriental do país, uma saudade que ficou conhecida, popularmente, como “ostalgia” (saudade do “leste” ou “ost”, em alemão).
Produtos originais da época em que a Alemanha esteve dividida voltam a ocupar prateleiras de lojas vintage, exposições tomam galerias e museus da capital, restaurantes ganham cardápios socialistas e até hotel ganha decoração inspirada na época em que o país serviu como satélite da União Soviética.
No dia 9 de novembro de 2014 a Alemanha comemora os 25 anos da queda do Muro de Berlim, uma construção com fins políticos e ideológicos que dividiu o país por quase três décadas, entre 1961 e 1989.
Para você entender o que foram aqueles anos de isolamento, o UOL Viagem percorreu os endereços da capital alemã relacionados com o muro e preparou este roteiro com as principais atrações turísticas e históricas da cidade.
:: TOURS TEMÁTICOS ::
A vida durante os rígidos anos sob administração socialista na Alemanha é tema de inusitados passeios guiados em Berlim como os tours de bicicleta ao longo de trechos preservados do Muro, caminhadas pelos corredores subterrâneos da cidade e até um curioso passeio a bordo de um autêntico Trabant, os minúsculos carros feitos com carroceria de plástico na Alemanha oriental.
Eduardo Vessoni/UOL
O Mauer Park é uma das paradas para os ciclistas que realizam o tour guiado
De bicicleta: Neste tour de três horas e meia, ciclistas percorrem 15 km por atrações turísticas e históricas relacionadas ao Muro de Berlim como o Mauer Park, parque público localizado no bairro Prenzlauer Berg, cujo muro preservado (e grafitado) ainda pode ser visto naquela região que marcava a divisão entre oriente e ocidente; o Checkpoint Charlie, uma das mais famosas fronteiras estrangeiras para o setor ocidental; e o Berlin Wall Memorial, na Bernauer Strasse, uma das ruas mais icônicas daquela época. Entrada paga. Saiba mais: www.berlinonbike.de
De carro (socialista): A inusitada fila de pequenos veículos da época socialista circulando pela cidade com visitantes estrangeiros ao volante não passa despercebido neste tour a bordo dos simpáticos veículos Trabant ou Trabi, como ficaram também conhecidos esses carrinhos de baixo custo. No primeiro veículo do comboio, um guia contextualiza fatos e endereços históricos que podem ser ouvidos nos carros que seguem atrás, conduzidos pelos próprios viajantes. A East Side Gallery, o trecho mais longo e em melhor estado de preservação do Muro de Berlim, é uma das paradas desse passeio de duas horas. Entrada paga. Saiba mais: www.trabi-safari.de
Debaixo da terra: Claustrofóbico, gelado e impactante. Essas são as sensações que o visitante tem nesse tour sob as ruas de Berlim, seguindo a rota dos que, inconformados com aquela ditadura socialista, tentaram escapar para o setor ocidental da cidade. Entre 1961 e 1982, o solo arenoso de Berlim viu surgir, sob seus pés, 300 túneis de fugas como os históricos “29” e “57”. Bunkers nazistas da Segunda Guerra Mundial e refúgios soviéticos do período da Guerra Fria também são temas de outros tours oferecidos no local. Entrada paga. Saiba mais: www.berliner-unterwelten.de 
Eduardo Vessoni/UOL
Há um tour a bordo de um autêntico Trabant, os minúsculos carros feitos com carroceria de plástico na época da Alemanha oriental
:: MUSEUS ::
Os diversos espaços de exposição da cidade oferecem uma excelente contextualização histórica e visual dos anos socialistas em Berlim. As opções vão desde museus com acervo relacionado à DDR (sigla em alemão para República Democrática Alemã) até áreas dedicadas ao Muro de Berlim.
Mauer Museum: Localizado ao lado do Checkpoint Charlie, um dos mais turísticos atrativos berlinenses relacionados à divisão alemã, esse museu abriga em uma área de 2.000 m² uma exposição permanente com fotos e objetos, embora as paredes excessivamente decoradas com textos longos dispersem a atenção dos visitantes. Nos finais de semana, espere por congestionamentos de visitantes nas salas estreitas do museu. Entrada paga. Saiba mais: www.mauermuseum.de
DDR Museum: Sem dúvida, este museu interativo é um dos espaços de exposição mais interessantes dedicados ao Muro de Berlim. Seu bem organizado acervo relembra o cotidiano dos alemães na antiga Berlim oriental sob a administração ditatorial da República Democrática Alemã ('Deutsche Demokratische Republik'', em alemão). A exposição está dividida por temas como trabalho, educação e mídia, entre outros, e abriga salas que recriam residências da época.
  • Eduardo Vessoni/UOL
    A vida cotidiana na DDR é tema da exposição permanente do Kulturbrauerei
A interatividade do local fica por conta de gavetas e portas que devem ser abertas pelos próprios vistantes, botões que acionam o movimento de peças e pelos jogos disponíveis neste espaço nomeado por duas vezes como Museu Europeu do Ano. Entrada paga. Saiba mais: www.ddr-museum.de
East Side Gallery: Considerada a maior a céu aberto do mundo, esta galeria se exibe ao longo dos 1.316 metros do antigo Muro de Berlim, localizado na Mühlenstraße, em Friedrichshain. Atualmente, pouco mais de cem trabalhos artísticos podem ser vistos pintados no maior trecho preservado dessa construção às margens do rio Spree. Muitos dos trabalhos em exposição são remanescentes do período imediatamente posterior à queda do Muro, quando o local foi tomado por artistas de 21 países que celebravam os novos tempos na Alemanha unificada. Entrada gratuita. Saiba mais: www.eastsidegallery-berlin.de
Topografia do terror: Com mais de um milhão de visitantes, em 2013, esta é uma das atrações relacionadas ao Muro que mais atraem visitantes, junto com os vizinhos Checkpoint Charlie e o Mauer Museum. O museu se localiza nas antigas instalações da polícia secreta do Estado ('Gestapo', em alemão) e abriga exposições ao ar livre sob um trecho preservado do antigo Muro de Berlim com documentos e recortes de jornais que contam a história da cidade desde a ocupação nazista. Na área interna, o visitante encontra uma exposição permanente em painéis que retratam a atuação das instituições da SS, organização militar do período de Adolf Hitler.
Entrada gratuita. www.topographie.de
Palace of tears: Reaberto recentemente, este museu se situa no interior de um edifício que ficou conhecido como 'Palácio das Lágrimas' por conta das fortes emoções das despedidas que aconteciam nesta estação de trem da Friedrichstrasse. Atualmente, o espaço abriga uma pequena exposição sobre as fronteiras e a vida daquele país dividido. Para quem já visitou os museus anteriores, o museu traz poucas novidades como trechos de documentários e fotos. Entrada gratuita. Saiba mais: www.hdg.de
'Vida cotidiana na DDR': Esta simpática e discreta exposição permanente do Kulturbrauerei, complexo cultural instalado no interior de uma antiga cervejaria de Berlim, também retrata o cotidiano na cidade dividida e o abismo que havia entre as propostas idealizadas pelo socialismo e realidade crua na Berlim oriental. O espaço de 600 m² abriga mais de 800 objetos originais da época como móveis, produtos alimentícios e até automóveis.
Entrada gratuita. Saiba mais: www.hdg.de 
Eduardo Vessoni/UOL
No Asisi Panorama, do artista austríaco Yadegar Asisi, o visitante sobe em uma plataforma para avistar a Berlim dividida em um outono fictício dos anos 80
:: EXPOSIÇÕES ::
Devido às comemorações dos 25 anos da Queda do Muro de Berlim, em novembro, diversos espaços temporários de exposição estão sendo montados na cidade. Um dos mais procurados é o Asisi Panorama (www.asisi.de), trabalho do artista austríaco Yadegar Asisi instalado no interior de uma arena onde o visitante sobe em uma plataforma para avistar a Berlim dividida em um outono fictício dos anos 80 representada em um painel panorâmico.
Na outra esquina das ruas Friedrichstraße e Zimmerstraße, a Black Box (entrada paga) é um espaço com 200 m² que reconta, com fotos em grande formato e estações multimídias, detalhes de eventos históricos anteriores à divisão da Alemanha como a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Um museu permanente da história da Guerra Fria está programado para ocupar o espaço, a partir de 2015.
:: HOTEL COMUNISTA ::
Os quatro relógios na recepção com horários de Havana, Berlim, Moscou e Pequim não deixam dúvida. Você acaba de chegar ao simpático Ostel Hostel, um hotel com decoração inspirada na época em que Berlim esteve dividida. Todos os 33 quartos desse hotel, a versão design e descolada da antiga Alemanha oriental, são decorados com objetos originais como telefones, rádios, lustres, livros de cabeceira (sobre socialismo, claro) e até as tradicionais bonecas russas Matryoshka.
O estabelecimento fica em Friedrichshain, na antiga Berlim oriental, claro. Saiba mais:www.ostel.eu 
Eduardo Vessoni/UOL
O Ostel Hostel tem decoração inspirada na época em que Berlim esteve dividida
:: RESTAURANTES SOCIALISTAS ::
A nostalgia do leste chegou também aos restaurantes de Berlim, em estabelecimentos que servem um cardápio original com os pratos insossos da era socialista.
O DDR Museum (www.ddr-restaurant.de) abriga um espaço onde é possível provar o jägerschnitzel, prato típico da Alemanha oriental preparado com macarrão parafuso, salsicha e molho picante.
Mais afastado da área central da cidade, o Osseria (www.osseria.de) também conta com cardápio da época como o senfeier, ovos ao molho de mostarda; solyanka, uma típica sopa russa feita com pepinos em conserva; e königsberger klops, almôndegas com molho de alcaparra.
Muro de Berlim
  • Situação histórica
    Com o objetivo de se proteger dos males do capitalismo nos territórios ocupados pelas Forças Aliadas (Estados Unidos, Grã-Bretanha e França) que ocupavam a Alemanha destruída desde o final da Segunda Guerra Mundial, os soviéticos anunciaram no dia 13 de agosto de 1961 o bloqueio da fronteira entre a Berlim Oriental e Ocidental.
  • Dois mundos
    Berlim e, consequentemente, o resto do país passava então a ser dividida em dois mundos opostos: a República Federal da Alemanha (RFA), capitalista; e o estado socialista da República Democrática Alemã (conhecida também como DDR, Deutsche Demokratische Republik).
  • Improviso
    A versão inicial da separação foi feita com barricadas de arames farpados erguidas inesperadamente na madrugada do dia 13. Porém, a divisão política e administrativa de Berlim só conheceria o clássico muro nos meses seguintes
  • A divisão
    Com 155 km de extensão, o Muro de Berlim impediu a passagem de civis por 193 ruas, reduziu os pontos de cruzamento para o lado ocidental e isolou membros de uma mesma família por conta da separação inesperada.
  • O início do fim
    A crise econômica dos países comunistas nos anos 80 começaram a desestabilizar países satélites da União Soviética como a Polônia, Hungria e a própria Alemanha Oriental, um dos motivos que levou o governo a abrir as fronteiras e dar início à inevitável queda do Muro, a partir de 9 de novembro de 1989.
  • A queda
    A derrubada daquele símbolo da ditadura socialista que reinou sobre aquelas nações marcaria não só a união da Alemanha como também o fim da Guerra Fria, como ficou conhecido o período de combates indiretos e ameaças entre os Estados Unidos e a União Soviética, entre 1945 e 1991.
Mais informações
Turismo da Alemanha
www.germany.travel
Site de turismo de Berlim
www.visitberlin.de
* O jornalista Eduardo Vessoni viajou a Berlim com o apoio do Centro de Turismo Alemão – DZT e do Visit Berlin

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