domingo, 30 de dezembro de 2012

Criatividade e espírito empreendedor marcam passeio por Johannesburgo, na África do Sul


Os turistas que passam batido por Johannesburgo para ir direto para a Cidade do Cabo ou para um safári perdem uma das metrópoles mais interessantes da África. A ex-cidadezinha fundada na febre do ouro sofreu com o fim do apartheid, mas a revitalização que ganhou em preparação à Copa do Mundo de 2010 a fez desabrochar.

Com uma reforma geral na infraestrutura – incluindo o sistema férreo Gautrain, que foi concluído em junho – Johannesburgo agora exibe todas as suas virtudes, depois de ter superado seus defeitos. Embora a taxa de criminalidade permaneça alta em alguns bairros (um pouco de cuidado sempre é recomendável), o centro da cidade está sendo redescoberto. Hoje em dia, jovens de todas as classes sociais se unem para reconstruir a cidade para a próxima geração, baseados numa fonte inesgotável de energia criativa e espírito empreendedor. As áreas mais caídas do centro de Johannesburgo se tornaram pontos de encontro animados, incluindo uma garagem antiga que abriga uma feira de alimentos e moda e um galpão de bebidas alcoólicas que atualmente reúne galerias e restaurantes. As atrações não param de surgir nessa cidade que só faz crescer.
Sexta
15h - Visão do artista
Johannesburgo abriga um dos cenários artísticos mais vibrantes do continente. Em maio, o novo Wits Art Museum (esquina de Bertha com Jorissen; 27-11-717-1365; wits.ac.za; ingresso a 50 rand) foi inaugurado com uma ampla coleção de arte africana reunida em três prédios contíguos, reformados e elegantes: um antigo posto de gasolina, uma agência de carros e uma faculdade de Odontologia. Seus cinco mil metros quadrados ficam a quinze minutos de carro de um curioso grupo de galerias contemporâneas. Destaque arquitetônico, a Circa on Jellicoe (2 Jellicoe Ave.; 27-11-788-4805; circaonjellicoe.co.za) é uma galeria multimídia projetada para se parecer com o cercado que os zulus fazem para seus animais, enquanto a Goodman, no formato de uma fortaleza (163 Jan Smuts Ave.; 27-11-788-1113;goodman-gallery.com), representa vários dos principais artistas sul-africanos, como William Kentridge, cujas obras reproduzem o passado turbulento do país com uma finesse eclética. Outras galerias menores, como a David Krut Projects (140 Jan Smuts Ave.; 27-11-447-0627; davidkrutprojects.com), se estabeleceram na frente da Goodman e merecem uma olhada.

19h - Cor e textura
Continue no tema criativo no Cube Tasting Kitchen (17 Fourth Ave.; 27-82-422-8158;cube.wozaonline.co.za), um restaurante aconchegante que serve menus degustação com vários pratos baseados em cores e texturas (de 6 a 14 pratos com preços entre 450 e 650 rand; é possível levar a própria bebida sem pagar taxa) num salão minimalista com cozinha aberta. O chef, Dario De Angeli, envia e-mails com recomendações de vinhos antes de cada refeição para que os clientes possam escolher adequadamente a bebida que devem levar para complementar pratos saborosos e ambiciosos como o filé com trufas e "celofane de cranberry" e mingau de escargots e vieiras.

22h30 - Dança e bebida
O Carvery Bar do Kitchener (esquina de De Beer com Juta; 27-79-266-5077) é onde os descolados de vinte e poucos anos se reúnem para dançar ao ritmo do R&B dos anos 90 e beber cerveja. O pub descontraído, que tem mais de um século de idade, papel de parede adamascado cor de vinho e painéis de metal prensado no forro, oferece uma mistura de hip-hop, funk, house e afrobeat. Se a pista de dança esquentar demais, dá para se refrescar no pátio externo.
  • Benedicte Kurzen/The New York Times
    Vídeo da programação do Museu do Apartheid, em Johannesburgo

Sábado

9h30 - Centro recuperado
Em agosto de 2011, um grupo chamado Main Street Walks começou a fazer passeios pelo centro financeiro de Johannesburgo (264 Fox St.; 27-72-880-9583; mainstreetwalks.co.za; de 150 a 350 rand) para provar aos visitantes que a área, da qual muitas empresas saíram durante o turbulento período de transição para a democracia, nos anos 90, não é mais o lugar assustador que costumava ser, mas sim uma região interessante na paisagem central. Os grupos começam a caminhada no prédio Arts on Main, exploram a variedade de monumentos, caminham pela colorida Diagonal Street, com seus vendedores e lojas de medicamentos tradicionais, visitam um sebo sensacional de oito andares e ainda admiram a paisagem do 50º andar do Carlton Center, o prédio mais alto da África (por enquanto).

13h - Margarita na mão
O mercado de comida e moda Neighbourgoods foi sucesso instantâneo desde que abriu (73 Juta St.; neighbourgoodsmarket.co.za; sábados das 9h às 15h), num antigo estacionamento do centro em setembro passado. A feira coberta tem dezenas de barraquinhas que vendem desde chapéus fedora (140 rand) a ostras da Namíbia (15 rand) passando por xícaras de café pintadas à mão (140 rand). Não estranhe se vir a maioria dos clientes fazendo compras e bebericando margarita (35 rand).

14h30 - Passado turbulento
Na bilheteria do Museu do Apartheid (esquina de Northern Parkway com Gold Reef Road; 27-11-309-4700; apartheidmuseum.org; entrada a 60 rand), são atribuídas raças aleatoriamente aos visitantes e eles têm que entrar por catracas diferentes: uma para os brancos e outra para os não brancos. Lá dentro, as exposições multimídia abrangentes – e, muitas vezes, chocantes – exploram as forças políticas e sociais que fizeram surgir o apartheid, suas principais características e derrocada violenta e a conquista suada da democracia.

17h30 - Terapia esportiva
Os esportes não são só acompanhados com fervor na África do Sul, mas têm também poder transformador. Acredita-se que o rúgbi tenha ajudado o país a se unir após o fim do apartheid, ao passo que a Copa do Mundo de 2010 ajudou a mostrar ao mundo o progresso dessa sociedade que já foi tão dividida. Assistir a um jogo no Coca-Cola Park (47 North Park Lane; 27-11-402-8644; www.ellispark.co.za), primeiro estádio a ter donos negros no país, ou testemunhar a rivalidade no futebol no belo estádio FNB (Soccer City Avenue; 27-11-247-5300), é programa obrigatório. Para abrilhantar o espetáculo, caras pintadas, uma multidão frenética e, é claro, a presença constante das barulhentas vuvuzelas.

20h - Refeição festiva
Com papel de parede decorado com cães e faisões, luzinhas pisca-pisca penduradas no teto de madeira e pratos deliciosos com influência asiática, o Attic (24 Fourth Ave.; 27-11-880-6102) é um dos restaurantes mais agradáveis e casuais da cidade. Pratos como o fettuccine com caranguejo (98 rand) e o soberbo atum com missô (140 rand) são servidos em porções generosas - mas é bom deixar espaço para a sobremesa, como a panna cotta de cardamomo com gelatina de café (45 rand). Há um sem-fim de bares bem próximos – o que é uma raridade aqui – mas o wine bar do próprio restaurante é bem aconchegante.

22h30 - Música ao vivo no estilo africano
Batizado com o nome da favela onde Hugh Masekela e Miriam Makeba foram descobertos, o retrô chic Sophiatown Bar Lounge (esquina de Henry Nxumalo com Jeppe; 27-11-836-5999;sophiatown.co.za) convida músicos de jazz a tocar para o público animado às quintas e sábados. Se não quiser dançar perto do palco, melhor relaxar com um copo de vinho tinto sul-africano numa das mesas. Se estiver a fim de um clube maior, vá ao Bassline (10 Henry Nxumalo St.; 27-11-838-9142; bassline.co.za), ali pertinho, considerado um dos melhores da cidade. A programação é diversificada, mas pende um pouco para o jazz, hip-hop e reggae, além dos estilos nativos como o kwaito, que mistura house com ritmos africanos.
  • Benedicte Kurzen/The New York Times
    Johannesburgo abriga um dos cenários artísticos mais vibrantes do continente. na imagem, obra do novo Wits Art Museum

Domingo

10h - Brunch e compras
Peça uma mesa na varanda do Salvationcafe (44 Stanley Ave., 27-11-482-7795;salvationcafe.co.za), uma das casas mais famosas pelo brunch, que fica no complexo da 44 Stanley. Depois de saborear torradas com queijo halloumi e pesto (59 rand), vagueie pelos labirintos de galerias e lojas do prédio, como a Wizards Vintage (27-11-025-3056), onde, numa visita recente, descobri um par de sandálias Prada por 300 rand, e a Dokter and Misses (27-11-025-2469; dokterandmisses.com), que vende objetos de decoração para a casa para lá de descolados.

13h - Berço da humanidade
Em nenhum outro lugar o termo Patrimônio Mundial é aplicado mais apropriadamente do que no Berço da Humanidade, onde foram encontrados vários fósseis de hominídeos. As descobertas mais espetaculares foram feitas nas Cavernas Sterkfontein (Sterkfontein Caves Road, 27-14-577-9000; maropeng.co.za; passeios por 130 rand), a 48 km da cidade, onde um esqueleto praticamente intacto de um Australopithecus foi encontrado nos anos 90. Depois de muito abaixar e se espremer nos corredores estreitos, os guias falam sobre a abundância de fósseis encontrados no local e estranhezas naturais, tais como a estalactite que parece um elefante, um lago subterrâneo e uma coluna com a forma do mapa da África.

Se você for

O entretenimento está pertinho de quem se hospedar no 12 Decades Johannesburg (286 Fox St.; 27-11-026 -5601; www.12decadeshotel.co.za), hotel projetado por um artista na região reformada do centro. Com doze quartos, o hotel fica num complexo que contém galerias, restaurantes, cinema, um bar na cobertura e uma feira de alimentos e arte aos domingos. Diárias dos quartos duplos a partir de 820 rand.

O Peech Hotel (61 North St.; 27-11-537-9797; thepeech.co.za) é um eco-hotel estiloso que fica em Melrose. Os 16 quartos combinam móveis modernos com decoração africana e seu bistrô usa apenas produtos cultivados na região. Tem uma piscina pequena. Diárias dos quartos duplos a partir de 2.120 rand.

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