Conhecida no país e “vendida” no exterior por agências, operadoras e o governo como a capital brasileira do turismo cultural, artístico e de lazer, Salvador ainda não possui um espaço adequado para a realização de eventos de grande porte, de acordo com um estudo sobre impactos sonoros e urbanísticos de shows na cidade. O trabalho apresentado em dezembro de 2010 apontou problemas em 51 dos mais importantes espaços musicais da cidade, importante pólo carnavalesco do Brasil.
Segundo o coordenador do estudo, o engenheiro civil Olavo Fonseca Filho, em todos os locais testados, durante o período de um ano, foram encontradas falhas na infraestrutura e organização dos eventos, como falta de vagas para veículos, estacionamentos irregulares, presença de ambulantes, pedestres circulando em via de carros, falta de sanitários públicos e poluição sonora.
Maquete do Farol da Barra mostra os lugares que mais sofrem com a poluição sonora em Salvador, coloridos de vermelho, azul ou de roxo
“Identificamos que há riscos de atropelamentos, contaminação por doenças devido à venda de alimentos sem fiscalização, interrupção do tráfego nos grandes centros urbanos da cidade, problemas neurológicos causados pelo ruído em excesso e até perda auditiva, principalmente para quem trabalha nesses eventos e para o público que se aloca próximo às principais caixas de som”, disse o engenheiro. O trabalho foi realizado por empresas privadas junto da Associação Antipoluição Sonora de Salvador.
“Todos nós sabemos que o universo musical da Bahia movimenta muito dinheiro mas, por incrível que pareça, os empresários só querem ganhar dinheiro e não se importam com o conforto do público e dos fãs dos artistas”, disse a estudante mineira Talita Figueiredo, 21. De férias em Salvador, a estudante participou de dois shows realizados em bairros diferentes da cidade no mês de janeiro.
Para minimizar o problema, no último dia 25 de janeiro, com o aval do Ministério Público, foi assinado um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) entre produtoras culturais, associações musicais e a Prefeitura de Salvador. No entanto, o acordo só deverá ser colocado em prática no próximo verão. Segundo a promotora Hortênsia Pinho, as pessoas e entidades que participaram do acordo se comprometeram a aprimorar o licenciamento dos eventos e a manter o volume do som dentro dos limites permitidos pela legislação. “Com isso, vamos diminuir o impacto dos ruídos, o lixo gerado, a obstrução do trânsito e todos os problemas de desconforto que os grandes eventos causam ao meio ambiente e à cidade. Vamos mudar o cenário para que, no próximo ano, tenhamos shows sem poluição sonora e impactos urbanísticos e em locais adequados”, afirmou a promotora.
Entre outras medidas, o documento exige estudo do melhor posicionamento do palco, instalação de barreiras acústicas, diminuição da potência sonora, bolsões de estacionamento com transporte alternativo para o público, áreas específicas para ambulantes, além de segurança interna e externa para os participantes dos espetáculos. Até o final do Carnaval as propostas serão testadas em três shows.
Para André Simões, diretor da APA (Associação das Produtoras de Axé para o Desenvolvimento da Música da Bahia), o TAC representa “um avanço no pensamento do Ministério Público e dos produtores locais que têm consciência da vocação artística e cultural da cidade, e estão em busca do benefício da população”. Ainda de acordo com Simões, é preciso que as casas de shows, por sua vez, também ofereçam uma infraestrutura adequada para receber os eventos.
Calendário de festas reduzido
Há muito tempo os moradores das áreas afetadas pelos eventos aguardavam a assinatura do acordo. “Em dias de shows, minha esposa e eu não conseguimos dormir e, mais grave do que isso, ficamos impedidos de sair das dependências do prédio porque a rua está tomada pela multidão. Se um de nós precisar de socorro médico, como vai ser?”, indaga o empresário Anderson da Costa Santos, 58, proprietário de um apartamento localizado nas imediações do Farol da Barra, palco de grandes eventos na cidade.
Há alguns dias, o problema de Anderson começou a ser resolvido. Na semana passada, a assinatura de outro TAC garantiu a redução no número de shows realizados no local. Se antes eram contabilizados, pelos moradores, até 55 dias de festas, agora, apenas quatro eventos de grande porte vão acontecer ao longo do ano.
fonte:http://carnaval.uol.com.br/2011/ultimas-noticias/redacao/2011/02/05/locais-de-shows-em-salvador-polo-carnavalesco-sofrem-com-falta-de-infraestrutura.htm
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