domingo, 23 de novembro de 2014

Parceria entre Smiles e Etihad é luxo para poucos

O Smiles, o programa de milhagens associado à Gol, liberou no último dia 12/11 o resgate de assentos prêmios em sua mais nova parceira, a Etihad. A companhia dos Emirados Árabes possui base de operações em Abu Dhabi, capital do país, a 120 km de Dubai, e é considerada uma das melhores aéreas do mundo.
A Etihad modernizou sua marca em outubro e anunciou mudanças significativas em seu serviço de bordo –inicialmente apenas nos novos A380, mas com previsão de expansão para outros modelos de sua frota, a Etihad passa a operar quatro classes de serviço a partir de dezembro. Além da econômica, as classes executivas e primeira foram redesenhadas para dar mais espaço e privacidade ao passageiro, enquanto a quarta classe, chamada de The Residence, é uma área separada para até dois passageiros viajando juntos, com sala de estar, quarto, banheiro privativo e serviço de mordomo e concierge durante os voos, que custam a partir de US$ 20.000 por trecho.
Do Brasil, a empresa opera voos diários a partir do aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, rumo a Abu Dhabi, de onde a companhia segue para destinos no Oriente Médio, na Ásia, na África, na Oceania, na Europa e nas Américas, tornando-a uma entre apenas dez aéreas a operar voos em todos os continentes habitados do planeta.
Privilégio caro
A boa notícia em relação à nova parceira tem um sabor ligeiramente amargo.
Em primeiro lugar, os clientes brasileiros do Smiles não poderão utilizar suas milhas para prêmios na The Residence, a não ser que haja uma nova renegociação contratual entre as empresas. Como os aeroportos brasileiros não estão aptos a receber o A380, única aeronave com as cabines ultraluxuosas, o Smiles optou por não incluí-la nas opções disponíveis a seus clientes, mesmo em rotas no exterior.
Além disso, quem quiser voar pela Etihad, mesmo nas classes tradicionais, terá de desembolsar milhas em valores muito superiores aos mínimos previstos na tabela padrão do programa.
Os preços, por trecho, em voos partindo do Brasil rumo a Abu Dhabi pela Etihad foram fixados da seguinte forma:
Classe Econômica: 75 mil milhas.
Executiva: 200 mil milhas.
Primeira Classe: 300 mil milhas.
São valores astronômicos comparados aos da própria tabela de prêmios da Gol, a qual define que o trecho-prêmio entre o Brasil e a Ásia deveria custar a partir de 50 mil milhas em classe econômica e a partir de 85 mil milhas em executiva ou primeira classe. Esses são os valores mínimos praticados, por exemplo, se o  cliente optar por emitir o prêmio pela parceira Qatar Airways, considerada tão boa quanto –ou até melhor que– a Etihad por diversos fóruns internacionais.
Caro para todos os destinos
Os valores assustadores são reflexos de modificações nas regras e tarifas do Smiles implementadas ao longo do último ano –a parceria com a Etihad é a primeira após as alterações.
Em julho, o programa atualizou sua tabela de prêmios, eliminando regiões de resgate clássicas entre os programas de milhagem, como o Oriente Médio e o Norte e o Sul da Ásia e da África, substituindo-as simplesmente por Ásia ou África.
Com isso, um resgate de prêmio entre a Europa e o Oriente Médio, por exemplo, passou a custar o mesmo que um bilhete entre o Brasil e o Japão — o mínimo de 50 mil milhas –,  enquanto em programas similares o trecho costuma sair por a partir de 15 mil milhas.
Junto com a alteração das regiões do programa, o Smiles também inflacionou os valores dos bilhetes prêmios e embolou executiva e primeira classe em uma tabela única e pouco clara em 30/7.
Pior ainda foi a eliminação do valor fixo dos prêmios: os novos valores, já alterados para cima, vieram todos precedidos de um “a partir de'', significando que não passam de uma mera sugestão daquilo que pode ser efetivamente cobrado do cliente no momento do resgate.
Alterações similares haviam sido realizadas pela TAM no Programa Fidelidade já em 2013, mas ao nivelar o seu programa por baixo, o Smiles perdeu a vantagem competitiva em um mercado acirrado, no qual fidelizar clientes é essencial.
Pelas regras em vigor, um trecho só de ida do Brasil para os EUA passou a custar um mínimo de 35 mil milhas, contra as 25 mil cobradas anteriormente. Já na executiva e na primeira classe os prêmios saltaram de 37,5 mil e 50 mil milhas por trecho, respectivamente, para tarifas que começam em nocauteantes 85 mil milhas.
Esses valores são os mesmos agora cobrados por um trecho-prêmio entre o Brasil e a Europa, que antes possuía valor de resgate fixo de 35 mil milhas na econômica, de 52,5 mil na executiva e de 70 mil em primeira classe.
Mesmo nos voos domésticos a situação do cliente Smiles piorou nos últimos meses. O trecho-prêmio, que antes custava no máximo 10 mil milhas em resgates promocionais e 20 mil milhas nos resgates irrestritos, também foi flexibilizado: uma busca rápida em voos saindo de São Paulo rumo a Natal revela preços de até 40 mil milhas por trecho entre os dias 21 e 30/11, e de até 50 mil milhas durante a véspera dos feriados do Ano Novo.
A tarifa é similar ao valor do trecho em classe executiva do Brasil para a Austrália no programa AAdvantage, da American Airlines (50 mil milhas), ou do Brasil rumo ao Havaí no MileagePlus, da United Airlines (60 mil milhas).
Trecho doméstico por 40 mil milhas no programa Smiles, em novembro.
Trecho doméstico por 40 mil milhas no programa Smiles, em novembro.

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